Bom público no primeiro dia do Foto em Pauta – Tiradentes | Fernando Lara
O primeiro dia do Foto em Pauta Tiradentes deixou uma boa impressão, pelo menos para mim. Comecei o às oito horas no workshop de Fotografia de Viagem e Edição de Imagens, com Valdemir Cunha. O enfoque em questões efetivamente práticas, sistematizadas ao longo de mais de 20 anos como fotógrafo e editor de revistas de viagem me parece algo não muito freqüente em oficinas e workshops e extremamente valioso. Generosidade é, também, fundamental para uma boa experiência. E isso ele tem de sobra.
Nem todos os workshops começaram ontem, o que fez com que, na parte da manhã, a cidade estivesse mais vazia. Aliás, esse é um ponto interessante dessa primeira edição do festival: a região não está superlotada com fotógrafos, como acontece com cineastas no Festival de Cinema de Tiradentes. A cidade vive uma relação de amor e ódio com grandes eventos: se eles, por um lado, inundam a região com uma grana muito bem-vinda, por outro inflacionam o custo de vida e acabam expulsando os moradores do centro, que se transforma numa seqüência de pousadas, lojas e restaurantes.
No fim da tarde, às 18h30, Clício Barroso, Gal Oppido e Cristiano Mascaro inauguraram a programação aberta ao público com o ciclo de idéias “Retratos – Complexidade e Troca”. Mediados por Geórgia Quintas, os três fotógrafos apresentaram sua produção e discutiram questões ligadas à relação entre fotógrafo e fotografado. Nas palavras de Mascaro, “[fazer retratos] é aquele momento único quando você está a sós com o outro”.
Cristiano Mascaro debate com o tema com propriedade | Fernando Lara
Já ouvi muito sobre a relação de cumplicidade, disputa e, por vezes, violência que acontece entre as duas partes que interagem num retrato. Um fotógrafo já disse que, ao fim de duas horas de tensão entre ele e um amigo, escutou “curioso isso de retrato, não? é uma mistura de estupro e sedução”. Sob esse aspecto, os três fotógrafos discorreram sobre suas estratégias na hora de produzir um retrato. A percepção comum entre eles é a de que não há uma fórmula, por mais que existam técnicas; a relação se dá ao acaso e depende amplamente do perfil, do comportamento e das experiências do fotografado. De acordo com Clício, a prática do retrato leva sempre a um auto-retrato de ambos.
A produção exibida pelos três fotógrafos sobre tema é bastante diferente: enquanto Gal Oppido mostrou um grande repertório de retratos de celebridades, produzidos em trabalhos editoriais, Clício se concentrou na descrição de suas influências em um ensaio produzido com modelos chamado Verso e Reverso. Por último, Mascaro – mais afeito à fotografia urbana e de arquitetura – apresentou composições menos fechadas nos retratados.
Após o debate, às 19h30, tivemos a abertura da exposição Homem Pedra, do fotógrafo mineiro Pedro David, que traz o resultado de uma documentação que ele iniciou no sertão de pernambuco e depois se estendeu por áreas semelhantes da Paraíba, Bahia e Minas Gerais. O trabalho dele pode ser visto aqui. E para fechar a quinta, apresentação comentada da obra do simpatissíssimo fotógrafo Cláudio Edinger, que impressionou com a leveza e a consistência fotográfica.
Apesar de uma programação não muito extensa, um começo do Foto em Pauta Tiradentes ocorreu sem falhas na organização, salas cheias, sinalização visual primorosa, auditórios lotados e projeção em um simpático jardim para aqueles que não conseguiram senha para as palestras. Mais do que isso, palestrantes e diálogos relevantes sobre fotografia, apesar de os participantes apresentarem um certo ar cansado de viagem.
Voltamos amanhã!
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