É um mergulho dentro ou fora de mim, um encontro, um olho no olho, um ficar de mãos dadas, um caminhar em silêncio. Quase sempre é assim quando uma fotografia me toca e me dá vontade de ficar olhando pra sempre.
Mas essa foto de Francesca Woodman é diferente, vai além… Ela me fala do que tenho de mais primitivo, mais humano e mais feminino. Tenho vontade de sair dançando por aí, de ser ainda mais livre.
É uma liberdade feroz, que me faz querer ir sempre além, que assusta, que machuca, uma liberdade sem nome e, por vezes, deslocada.
Me sinto viva ao olhar essa foto. Como se ela me falasse dos meus caminhos, das minhas escolhas. Como se me dissesse em alto e bom som, com a sabedoria das velhas, que as estações tem seu tempo e é apenas preciso esperar o tempo certo chegar.
Dance, me diz ela, dance a sua dor, dance a sua alegria, dance a sua liberdade, dance esse amor à vida…
Ela me lembra um sonho. Em que eu era criança e adulta, menina e mulher. E eu era as duas. Enquanto adulta, me olhava criança, como se olhasse para um espelho vivo, para um espelho do passado. Meio atônita, vi a menina sorrir, pegar minha mão e me falar do presente. Era a menina me convidando pra dançar com ela. E eu fui.
Eu podia ficar dançando pra sempre essa foto de Francesca Woodman.