É preciso se resignar e dizer: é muito difícil dar conta do Paraty em Foco. Não apenas em tamanho, vale esclarecer, mas em provocações que o festival gera na cabeça de quem já é consideravelmente provocado pela fotografia. Hoje, quinta-feira, já no Rio de Janeiro, me pego ainda pensando os assuntos possíveis que o festival plantou em mim. Não é à toa que o PEF saiu no top 10 dos maiores festivais de fotografia do mundo segundo o grupo Raconteur on Photography. A matéria comenta o boom de festivais de fotografia que tem se espalhado pelo mundo – nos levando à impressão de que a fotografia tem realmente conquistado um espaço de destaque na nossa produção cultural.

Foto: Roberta Dabdab, integrante da exposição Geração 00, curada por Eder Chiodetto
Essa questão foi o centro de um dos encontros do PEF 2011, “Futuro do Pretérito”, que contou com as presenças do historiador Maurício Lissovsky e do curador Eder Chiodetto, ambos entrevistados por Lívia Aquino, uma da blogueiras favoritas do 7. Ambos os entrevistados têm se tornado os principais referenciais brasileiros sobre o debate do futuro das imagens: Eder como um dos curadores mais importantes do país e autor da iniciativa audaciosa da mostra”Geração 00″, que propôs uma espécie de mapeamento dos primeiros dez anos do século 21 na fotografia brasileira; e Lissovsky que, como historiador, tem se preocupado em analisar a fotografia e sua relação com o tempo e as novas tecnologias.
Para Lissovsky, a fotografia ocupa o centro do debate do futuro da imagem, sendo um dos aspectos mais significativos para a observação dos pontos de transição a que chegamos hoje. “Nosso futuro e o futuro da fotografia estariam conectados”, ele afirma. Fiquei muito atenta a essa discussão porque em quase dois anos de mestrado me questionei muito sobre as razões reais do meu interesse pela fotografia – já que tenho a impressão de que simplesmente declarar amor por ela não parece argumento que vá convencer uma banca de dissertação. Então, como justificar essa afirmativa de que a fotografia é o centro do debate do futuro? Por que a fotografia e não outros modos de imagens – modos de imagem que surgiram após ela, e que talvez por isso pudessem ser admitidos como imagens mais contemporâneas?
Hoje vivemos uma crise da modernidade – conceitos que durante o século XX nos pareciam fundamentais como originalidade, autoria e propriedade intelectual começam a ser questionados e ressignificados. Lessig, o criador do Creative Commons, já havia falado que a tecnologia produziu uma cultura que estimulava um consumo eficiente (leitura) e uma produção amadora ineficiente (escritura). “Daí veio a internet, e plataformas como o youtube, que mudaram nossa cultura e trouxeram de volta o espírito do remix”.
E daí pensamos na fotografia contemporânea e seus constantes remixes com o vídeo e o questionamento de Lissovsky: o que acontece quando a câmera de vídeo e a de foto se tornam a mesma coisa? Como chamar um fotógrafo que agora também é pautado para produzir vídeos? “Fotoasta”?
Para Eder, a fotografia seria a primeira linguagem a sofrer os impactos da tecnologia. Talvez sim, mas não consigo afirmar a mesma coisa sem alguma incerteza. O que podemos dizer é que a fotografia tem realmente se mostrado uma imagem impressionantemente adaptável, sobrevivendo aos novos desafios que lhe são impostos. Talvez, como disse Lissovsky, o nosso futuro e o futuro da fotografia estão conectados porque, de certa forma, ela tem tensionado as fronteiras entre imagem e mundo. E completa: a fotografia é o “duplo simultâneo” de uma crise que é social, cultural, política e tecnológica. Qual será nosso destino?
Uma das exposição que discutiam essas questões foi a série Sunsets Portraits, da artista americana Penélope Umbrico, que exibiu um painel com fotografias do pôr-do-sol apropriadas a partir do Flickr. A intensa produção visual, nossa exposição excessiva às imagens, a apropriação e as dificuldades de controle dessas imagens na Internet são aspectos que podemos discutir a partir desse trabalho.
Um outro trabalho que também me chamou muita atenção foi o projeto #Symbiosis, da paraense Roberta Carvalho. Andando no meio das ruas de Paraty, fiquei completamente tomada quando dei de cara com essa árvore-gente que mais parecia uma encarnação. O trabalho é uma foto-vídeo-instalação que me fez pensar na própria personalidade da natureza se fazendo presente através de uma imagem. Seria esse mais um dos caminhos alternativos da fotografia?