Na semana passada eu estava “futucando” informações sobre o novo trabalho da Björk, chamado Biophilia (muito bom, por sinal! Tem até app interativo pra iPhone!), e fui assistir ao clipe de “Moon”. Achei uma coisa linda e, quando vi o crédito dos diretores do vídeo, lá estavam os nomes deles: Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin.
Essa dupla holandesa de fotógrafos, para quem ainda não conhece, está entre as maiores referências do universo da moda (campanhas para Dior, Gucci, Louis Vuitton, Yves Saint Laurent, por exemplo; capas para a Vogue Paris e V Magazine; e retratos inusitados de celebridades como Michael Douglas, Scarlett Johansson, Bono Vox, Penelope Cruz, Michelle Williams, Uma Thurman, Nicole Kidman, Clint Eastwood, Benicio Del Toro, Kate Moss, Tom Cruise e Sophia Loren.). Com um traço autoral marcante, as imagens produzidas pela dupla (e a forma com que eles trabalham juntos) são pura arte contemporânea de tirar o fôlego.
Como na internet a gente acaba navegando e se perdendo no que começou a ver (sou a pessoa mais cheia de “abas abertas no navegador” do mundo), entrei no site do casal para babar o trabalho deles, pois eu só conhecia um ou outro trabalho fotográfico. A grande surpresa foi ver que eles estão fazendo muitos trabalhos como videastas, inclusive fizeram um projeto lindo com “You and I”, da Lady Gaga.
Porém, não foi a seção de vídeo que me parou, mas a de retratos. Ao clicar no “portrait” de Natelie Portman todo meu impulso de abrir novas abas, de sair clicando, devorando, navegando, simplesmente descansou.
Eu já conhecia esta imagem, mas, da primeira vez que a vi, ela não reagiu em mim como o fez desta. O ar místico desta fotografia faz meu coração bater mais forte, petrifica o meu olhar e me deixaria horas (dias?) assim, só olhando pra ela…
Eu poderia olhá-la analiticamente como o fiz da primeira vez que a vi, há um bom tempo: reconhecer traços de surrealismo na construção, perceber os vários (e perfeitos) tons de cinza, a luz refletida de um ângulo e em uma intensidade de mestre, a direção da cena, a atuação (e lindeza!) da atriz, aquela aliança no dedo da mão… Mas não. Sinto muito. Me rendo. Só quero olhar e entrar no olhar desta moça (seria uma santa? seria eu?), sentir o peso da mão em cima da cabeça, ou o conforto que ela pode dar. Essa foto me faz sentir tanta coisa.
Talvez pela minha criação religiosa – apesar de bem herege e um tanto miscigenada (rs), sou católica batizada e crismada, gosto de frequentar igrejas, templos e lugares sagrados, me emociono em cerimônias religiosas, sou devota tatuada de São Francisco e amante de Nossa Senhora (por sinal, esta semana foi feriado no dia da Pretinha e eu queria deixar aqui um “Salve!”) – essa fotografia me leva pra uma dimensão bastante espiritual. Talvez eu tenha entrado em uma espécie de transe por alguns momentos. E esses instantes poderiam ser a eternidade. Acho que ela me levou mais pra perto de Deus, de Jah, do Nirvana, dos espíritos bons, de uma Natureza pura ou qualquer estado de elevação. Espero que alguém partilhe comigo desta experiência e se sinta bem pelo resto do dia hoje por conta desta imagem.
retratos-sentido, cheios silêncio.
A Natalie Portman fez uma cara tão dúbia que dá mesmo a se perguntar. E a mão, grande e com a aliança, só aumenta a filosofia!
Agora um comentário um pouco off: eu reconheci de cada a Portman, mas olhando o sinal dela e a boca (na verdade, do nariz pra baixo) ela não lembra Scarlett Johansson? Ou seria o fato de Scarlett ter feito aquele filme “Moça com brinco de pérola” que me fez lembrar dela ao ver essa foto? Tem até a chamada catchlight, tão presente em quadros clássicos/renascentistas…
Ao contrário de muita coisa que já vi por aí, essa imagem dá a pensar, mas sem ser simples masturbação mental, então é simplesmente muito bom vê-la e pensar com ela!
além desses detalhes dúbios citados por Alexandre, eu acrescentaria outros.
num momento vejo uma espécie de véu encobrindo a cabeça dela, especialmente levando em conta o detalhe da estampa; noutro vejo um capuz de roupão, pela textura (parece algodão) e também pelo cabelo (molhado). santos tomam banho? (risos).
e essa mão esquerda sobre a cabeça? num primeiro momento poderia ser uma benção, mas… olha lá a pele gasta entre os dedos polegar e indicador (versus perfeição divina)… e a aliança (seria o marido? um outro homem casado?)… além do mais, a mão se posta mais à frente, na testa, largando seu peso sobre ela, como se estivesse prestes a puxar a cabeça para trás. será?
o detalhe mais interessante, pra mim, é o dedo médio sobre sobrancelha: além de reforçar a ideia de que a cabeça está prestes a ser puxada pela mão, ela também dá outro direcionamento ao rosto: inspira uma expressão de dúvida, incerteza, cisma com algo (sempre levantamos a sobrancelha nesses casos, né?). totalmente diferente do que vemos logo no início, uma expressão e um olhar vagos, bem típicos de imagens sacras. talvez, também, uma crítica às “certezas inabaláveis”.
enfim, toda essa coisa dúbia provavelmente é intencional. e tá aí o grande trunfo do trabalho!
Caramba, Chico, muito boa sua percepção!
Putz, esse “Podia ficar olhando…” acho que foi sem dúvida um dos mais intrigantes que já teve!
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