Estivemos ontem na Arte Plural para a abertura da exposição 2x Alexandre, dos queridos Alexandre Severo e Alexandre Sequeira, com curadoria de Simonetta Persichetti . É sempre uma delícia poder prestigiar iniciativas como esta movimentando a cidade!
O Alexandre Sequeira é paraense, formado em arquitetura na UFPA, professor há 13 anos no curso de Artes Visuais, membro da Fotoativa, costuma explorar suportes e sistemáticas não-convencionais em seus trabalhos – como os lençóis, redes e toalhas dos moradores de Nazaré do Mocajuba. Seu trabalho, como ele mesmo fez questão de frisar, se funda na fotografia, mas não se trata da fotografia em si – o que, confessou, lhe dá certo constrangimento em se denominar fotógrafo.
Nazaré do Mocajuba – trabalho que está sendo exposto a partir de hoje na Arte Plural -foi realizado entre os anos de 2004 e 2005, com o financiamento de uma bolsa de pesquisa. O objetivo era, por meio da construção de uma relação com o lugar, uma vila de pescadores a 3h de Belém, sair da condição de estrangeiro que é inerente ao fotógrafo para estabelecer um vínculo investigativo baseado na afetividade. Para Sequeira, a potência do trabalho está nas relações humanas que o projeto tornou possíveis. “Não é um clique de um segundo que edifica a relação” entre o fotógrafo e o fotografado.
As imagens captadas foram reproduzidas, com serigrafia, em tamanho real em lençóis, toalhas de mesa, redes, mosquiteiros, cortinas dos próprios moradores da vila. São uma forma de reconstruir uma narrativa da comunidade, como ele mesmo diz, “uma contação de histórias” que produz um curioso resultado de incentivar as pessoas a enxergar o seu reflexo na diferença do outro. A exposição, que já esteve em lugares como Paris, Bruxelas, Quebec, Montevidéu, Porto Alegre, São Paulo, fica em Recife até o dia 20 de novembro.
Dialogando com esse trabalho temos o ensaio “Os Sertões”, do Alexandre Severo, fotógrafo pernambucano, que produziu, em parceria com a repórter Fabiana Moraes e o motorista Reginaldo Araújo, um caderno especial para o Jornal do Commercio em referência aos 100 anos da morte do escritor brasileiro, Euclides da Cunha, autor do livro “Os Sertões”.
Depois de levar o prêmio Esso de Jornalismo e ser publicado em livro, o projeto transpõe mais essa fronteira e tem suas fotos expostas em uma galeria, incentivando um interessante diálogo entre a produção de notícias e os espaços canônicos da arte. O objetivo do projeto, como Severo afirmou, era revisitar o estereótipo do sertanejo apresentado ao Brasil pela obra euclidiana, e, por meio do confronto com esses tipos humanos, pesquisar quem seria o sertanejo hoje.
Para a realização do projeto, foram propostos alguns estereótipos a serem reafirmados na pesquisa – o beato, o vaqueiro, o sem-teto, a travesti – a fim de buscar perfis, pessoas como símbolos do ser sertanejo. Os retratos fechados e as imagens em estúdio a céu aberto buscam fazer um diálogo entre a identidade do personagem e sua relação com o seu ambiente. “Eu fotografo o que eu sou”, “esse trabalho abriu portas de percepção para mim mesmo”, diz Severo, e lembra de Márcio Scavone ao citar: “todo retrato é também um autorretrato”.
Conferir esta exposição é quase obrigatório para quem estiver por Recife. O material exposto está incrível. São “dois Alexandres que ajudam a construir a memória de nossa gente e por meio dos retratos os inserem de forma definitiva na nossa sociedade”, afirma Simonetta.
* O 7 não se contentou em só ver a exposição e fizemos uma entrevista com os dois Alexandres ali mesmo na Arte Plural. Aguardem um pouquinho que, em breve, vem um material muito bonito por aqui.
Muito massa! No aguardo da entrevista! =)
Exposição belíssima. A fotografia tendo uma função revolucionária. Afetando fotógrafo e fotografado. Muito grato.