Algumas inquietações sobre a morte e o futuro da fotografia me atravessaram estas últimas semanas. E três episódios acabaram gerando uma série de questionamentos e esse texto cheio de perguntas.
Primeiro comecei a observar uma mudança no discurso dos meus clientes, que além dos serviços fotográficos, passaram a me solicitar cobertura de vídeo como se filmar e fotografar fosse sinônimo um do outro. E isso me deixou com uma leve sensação de estranhamento e uma pergunta: a fotografia não é mais suficiente?
Em seguida, descobri que durante o último Paraty em Foco, Cláudio Feijó fez uma grande provocação, marcou hora e lugar na praça principal da cidade e pediu para as pessoas levarem suas câmeras analógicas e meio litro de querosene para fazer uma fogueira e queimar os equipamentos, numa cerimônia ritualística de enterro simbólico da fotografia. Essa provocação de Feijó me suscitou outra questão: a fotografia está morrendo?
Logo depois um texto de Mauricio Lissovsky com dez proposições acerca do futuro da fotografia e do futuro dos fotógrafos me lançou mais uma dúvida: qual é o futuro da fotografia?
É fato que tudo está mudando rapidamente. E o que chamamos de fotografia também. Os recursos de manipulação e divulgação das imagens, multiplicaram infinitamente as possibilidades de transformação da fotografia e a sua ligação cada vez mais estreita com o audiovisual parece colocar fora de lugar um pensamento analógico que está se perdendo, mas ainda faz parte dos nossos conceitos.
É meio difícil de admitir, mas parece que essa fotografia que nós conhecemos está morrendo e, consequentemente, os fotógrafos também.
É o que declara Cláudio Feijó ao sugerir que o imagético, aquele que trabalha com a imagem, assumirá o lugar do fotógrafo. Mas será que estamos prontos para nos abandonar enquanto fotógrafos e nos tornarmos imagéticos?
O futuro parece que deixou de ser um tempo vindouro e está batendo em nossa porta, nos cobrando uma posição. E qual é o nosso posicionamento diante desse futuro do presente?
Lissovsky sugere que o futuro torna-se o próprio objeto de leitura, trata-se agora do fotógrafo que não sabe ler o futuro em suas próprias imagens.
“A temporalidade em que vive quem é capaz de ler os indícios do futuro oculto nas imagens é como aquela em que estão mergulhados os adivinhos. Não se trata aqui do tempo das cartomantes e astrólogos vulgares, que sondam, movidos apenas pela curiosidade, o que ainda está por vir. Trata-se de um tempo divinatório, premonitório, que está sempre ao nosso lado. Que nos é sempre contemporâneo.”
Essa ideia de Lissovsky não é nova. Ela está presente, por exemplo, no Tarô, um oráculo repleto de imagens. E me chama a atenção que a carta da morte me dê uma resposta para essas questões.
A morte, ao contrário do que pensa a grande maioria das pessoas, não significa um fim, mas o início de um novo ciclo de vida-morte-vida, um período é de transição. Na dança da morte com a vida, ficamos todos assombrados e um tanto despedaçados, mas a vida está pulsando de novo.
A fotografia morreu e nunca esteve tão viva!
“O futuro é o passado com as roupas do presente”. E o ciclo continua…
Somos uma geração privilegiada! Estamos tendo a oportunidade de viver um processo histórico de transição . E como sempre aparecem os extremos batendo o pé e dizendo – “Eu estou com a razão!” Do outro lado ecoa a mesma frase…
Acho muito interessante a noção de “morte vida / vida morte”, são como sinônimos para mim. No final das contas o tempo sempre é soberano.
Mateus Sá
Isabella Valle curtiu esse comentário de Mateus Sá.
Que texto ótimo, Val! Nós temos que nos abrir ao mundo multimídia e isso é lindo! E viva a fotografia que está viva e se modifica.