É inevitável admirar Bresson. Você pode discordar de todas as suas teorias sobre o instante decisivo e de suas bandeiras levantadas contra o uso da cor, mas é simplesmente impossível não babar pelas suas fotografias.
Há um tempo houve uma exposição dele em São Paulo, no Sesc Pinheiros (no segundo semestre de 2009), e, por coincidência, eu estava na cidade em trânsito para o Paraty em Foco. Foi maravilhoso caminhar entre aquelas imagens. A maestria com que Bresson compunha suas fotografias, as luzes, a sensibilidade, o olhar é incrível. Ele é realmente um dos maiores da História e isso só se explica conhecendo sua obra.
Porém, por mais belas e fortes que as fotos do francês me pareçam e por mais que a grande maioria delas me deixem de queixo caído, sentir aquela coisinha no coração não é tão simples assim no meio de tanta geometria. Em geral, são fotos de dizer “Nossa!”, mas não são fotos que te levam pra outra dimensão. Pelo contrário, muitas delas fincam com toda força teus pés no chão. Falo por mim, pela minha experiência, claro.
Porém esta foto foge a tudo isso e me faz esquecer sua própria composição. Ela não é um todo, mas uma série de fragmentos afetivos, sensuais, românticos. A tensão nos pés da moça, seus braços abertos, a cabeça do rapaz… Essa imagem me excita de uma forma que eu nem consigo explicar. É como se eu pudesse ver o próprio olhar de desejo do casal, mesmo em seus rostos escondidos. É como se eu o visse mordendo a barriga dela logo em seguida. É movimento, é cinema. Essa foto continua…
Eu podia ficar olhando pra sempre pra ela, criando as narrativas que ela me estimula a imaginar, inventando histórias cheias de vontades e soltando sorrisos discretos, porém mais frequentes ao longo do dia.
… ele vai beijar a barriga dela sim, e eles serão felizes durante todo o desejo…
Hhmmm, parece que o Bresson era muito bom até na hora de clicar uma cicarellada…