Sossegai, senhor: acabaram-se os nossos folguedos. Esses atores como já disse, eram todos eles espíritos incorpóreos: em ar impalpável se dissolveram.
William Shakespeare, em A Tempestade
Muito pouco, ou quase nada, eu falei aqui sobre fotografia de espetáculo, apesar de quase todo meu trabalho ser com fotografia de palco. Para mim, entrar num teatro é algo meio mágico, é como se eu entrasse num mundo paralelo, mas não menos real do que o mundo que existe fora dele. É puro encantamento.
E foi esse encantamento que me levou a conhecer as fotografias de Fredi Kleemann, sem dúvida um dos mais importantes trabalhos de fotografia de palco já realizados no nosso país.
Nascido na Alemanha, Kleemann chegou no Brasil em 1933. Foi funcionário da Fotóptica, participou do Foto Cine Clube Bandeirante e fez parte da equipe, como ator coadjuvante, do Teatro Brasileiro de Comédia (que se tornou revolucionário pela inovação na forma de interpretar dos atores e na montagem dos espetáculos), onde foi descoberto como fotógrafo pelo diretor da companhia, que o contratou para fazer as fotos de divulgação e de registro dos espetáculos.
Kleemann acabou se afirmando como fotógrafo especializado em teatro, possivelmente o primeiro fotógrafo regular de uma companhia teatral brasileira, mas continuou a ser ator até o fim de sua vida.

Célia Biar, Paulo Autran e Tônia Carreiro no espetáculo Uma Mulher do Outro Mundo | Foto Fredi Kleeman - 1954
Suas imagens registraram os cenários, os figurinos e os personagens, com um olhar de quem conhecia as cochias e o palco. E acredito que não seria exagero dizer que suas fotografias revelam uma parte importante da história do teatro brasileiro, pois elas constituem uma relevante documentação sobre o período de 1949 a 1973.
Nessa época, seu trabalho como fotógrafo passou a ser reconhecido e Kleemann recebeu prêmios nos salões internacionais de Nova York, Montreal, Buenos Aires e São Paulo. Em 1952, foi o primeiro sul-americano a ser premiado pelo Salão Internacional de Paris. Também foi convidado a ser fotógrafo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, sendo responsável pelos stills dos filmes lançados pelo estúdio.
Hoje, seu acervo de 12 mil negativos faz parte da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São Paulo (CCSP) e está aberto ao público. O CCSP disponibiliza para download o número dedicado ao fotógrafo da Coleção Cadernos de Pesquisa, onde constam ensaios fotógraficos, estudos de iluminação, bonecos para divulgação e fotos de familiares e amigos.
O crítico de teatro Décio de Almeida Prado, no livro Foto em Cena, com fotografias de Fredi Kleemann, apresenta um olhar bastante interessante sobre o trabalho de Kleemann:
Perdoem-me, portanto, se volto teimosamente, como numa obsessão, a essas criaturas de palco, meio irreais em sua tão forte realidade. Porque Fredi Kleemann retratou sobretudo, personagens, não pessoas físicas.
Este é um gênero da fotografia que não conhecia. Muito elucidador.
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Olá!
gostei muito do seu artigo. Eu mesmo estou inicando em fotografia de palco e estou fazendo uma pesquisa sobre a história da fotografia de teatro no brasil. Eu gostaria de saber quais as suas fontes de pesquisa em cima do Kleeman? (eu só conheço o livro “Foto em Cena” e eu gostaria de saber se existem outros registros sobre ele…)
Muito obrigado!
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