Por Joanna Calazans
Tive contato com o trabalho de Emiliano Dantas durante a semana de fotografia de Recife em 2010. Ele tirou de um envelope várias imagens de seu trabalho “Celso e Bilé”, falou um pouco do ato de fotografar seus avôs, do processo e do quanto estava sendo interessante . Esse trabalho ficou comigo desde então, seja por sua delicadeza, seja por seus aspectos narrativos. Cada foto era uma parte que compunha um todo, como páginas de um livro. Para mim, esse trabalho não era somente a história de Seu Celso e Dona Bilé, mas de toda uma família, de uma época.
Tempos depois fui olhar novamente o trabalho, e me deparei com uma imagem das mãos de D. Bilé e Seu Celso, juntas, em um movimento de quase segurar a mão. O movimento dessas mãos me comove; não só pela intimidade do gesto, mas também porque as rugas, as marcas de sol, a pele envelhecida me remetem um vida inteira. Também, a mão que vem de baixo se apoia na outra; quase no centro da imagem vemos a aliança de casamento, há uma naturalidade e uma cumplicidade neste movimento que deixa claro a ligação dos dois. Essa imagem mexe comigo não só por sua beleza estética, mas levanta questionamentos de vida, de morte, de amor, de tempo, de perda.
Neste sentido, a fotografia nunca cansa de me impressionar. Ela consegue, ao mesmo tempo documentar uma história pessoal e contribuir para o entendimento de uma história coletiva, compartilhada por todos os seres humanos. É ao mesmo tempo uma história de amor e de vida e um comentário sobre a humanidade inerente em nós. Esses dois aspectos se fundem de uma forma tão sutil que às vezes fica até difícil de olhar uma imagem e não “viajar” para dentro de si.
Neste caso, olho para esta imagem e penso nas pessoas que me cercam, no amor que permeia minha vida e na história da qual faço parte como personagem principal e ator coadjuvante. Como Emiliano relata sobre seu avô, “Uma coisa muito emblemática para mim era como seu Celso não tinha medo de morrer, ele sempre dizia que estava velho e que se morresse não tinha problema. A impressão que me dava é que ele já tinha cumprido seus objetivos”. Assim como Seu Celso, eu também quero chegar à velhice com o senso de haver realizado tudo que foi possível. .
Jôo, que lindo! Muito bom ter você por aqui conosco. Obrigadão, lindona.
Um detalhe bem interessante é que havia um costume dos antigos de que quando um dos cônjuges morria, o que estava vivo usava a aliança do outro como símbolo da viúvez (sei disso porque minha vó usa a aliança do meu falecido avô). Com essa informação essa foto adquiri uma interpretação totalmente diferente para mim: eu vejo ali o retrado do fim da vida… a mão que apóia na outra já está sem vida (possivelmente um funeral), e a mão viva carrega apenas as lembranças simbolizada pela dupla aliança.
Muito bacana essa foto…. poderia ficar olhando pra sempre essa foto. ehehe