O I Encontro Pensamento e Reflexão na Fotografia encerrou as atividades com um resultado bem positivo em termos de discussões. É muito bacana imaginar que uma série de projetos, trabalhos, exposições, estudos, pesquisas e parcerias serão desenvolvidas a partir dos contatos e reflexões proporcionados nos três dias do evento no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.
Além do workshop do Juan Antonio Molina que, como eu disse no post anterior, me deixou repleta de interrogações que serão desdobradas em um diálogo em breve, as mesas dos dois últimos dias também agregaram uma série de inquietações que eu coloquei em uma das minhas caixinhas cerebrais, para desenvolver quando voltar a Aracaju e a Recife, no mês de junho. Há muita coisa para discutir individualmente e coletivamente e isso é muito bom!
A mesa intitulada A escrita e o jornalismo: há espaço para a crítica? reuniu no debate Thyago Nogueira, da Revista Zum, Simonetta Persichetti e Juan Esteves. Durante quase duas horas eles colocaram o que acreditam ser uma crítica bacana e quais os entraves enfrentados por quem está desenvolvendo este tipo de trabalho.
Os debatedores colocaram que uma boa crítica tem como características: a) dialogar com a obra, exposição, publicação ou evento relacionado com o meio fotográfico; b) observar as construções interessantes do que está sendo analisado; c) apontar o que pode ser melhorado; d) e trazer elementos que permitam que o leitor possa tirar conclusões pessoais do que está sendo analisado.
Eles colocaram, porém, que o exercício da crítica está sempre relacionado com o desconforto de dialogar com quem está do outro lado. Pode ocorrer desde situações em que as pessoas nem sempre estão preparadas para ouvir ponderações – e várias histórias delicadas ocorrem neste sentido – ou até do próprio crítico estar em um momento complicado e fazer uma análise equivocada do material visto.
O que me incomodou na discussão foi uma afirmação recorrente por parte de alguns dos debatedores de que, em conversas com críticos mais antigos, estes diziam ter a sensação de que a crítica feita atualmente era superficial e, às vezes, pouco comprometida com o crescimento da área. Eu não pude fazer minha pergunta aos debatedores, por causa do adiantado da hora, mas procurei por alguns deles ao final da apresentação para questionar algumas coisas que divido com vocês para que possamos ampliar o debate sobre o tema.
Esse desconforto entre gerações é muito comum e existe em qualquer área relacionada com a criação, seja música, cinema, literatura, gastronomia, entre outros. A minha questão básica é: há espaço para esperar que um jovem crítico amadureça? Será que os primeiros textos publicados pelos críticos que hoje respeitamos eram um primor de análise desde suas linhas iniciais ou houve um processo criativo que foi gestado ao longo de anos? Então, por que essa mão pesada cai de forma tão recorrente em quem está começando a esboçar suas primeiras ponderações?
Uma coisa que eu fiquei pensando é que existe leitura de portfólio para fotógrafos, artistas visuais e até para curadores no campo da fotografia, mas não existe de maneira mais efetiva um trabalho de preparação de críticos para a área. Enquanto nos meios do cinema e da literatura é muito frequente ver oficinas, encontros e grupos específicos sobre crítica, a fotografia – talvez por ser mais nova no Brasil – ainda está nascendo neste aspecto. Então, eu penso que, ao lado da cobrança, também precisam vir iniciativas que visem amadurecer e consolidar esses exercícios críticos que despontam em vários meios de comunicação impressos e on line.

Guerra Conectada – matéria comentada por Thyago Nogueira durante debate no evento, em São Paulo. Ele mostrou o trabalho dos fotógrafos do projeto Basetrack, que se inseriram em um batalhão afegão e os incentivaram a fotografar o cotidiano das atividades durante a guerra e publicar na rede.
Neste sentido, o aparecimento de diversas publicações sobre fotografia ou que acolhem a área entre suas atividades é muito importante. O encontro quis reforçar a chegada da Zum, publicação semestral do Instituto Moreira Salles (IMS), editada por Thyago Nogueira, como um dos novos espaços em que é possível exercitar essa crítica. O editor explicou que nem todos os textos são críticas, mas que ele faz questão de que haja algum texto dialogando com os ensaios publicados em cada edição. A escolha dos colaboradores também aponta para um intercâmbio de fotógrafos com profissionais de outras áreas para “arejar”, segundo Nogueira, as reflexões acerca do meio. A Zum está em sua segunda edição e é vendida nas principais livrarias do país e pelo site do IMS.