Plataforma – Alexandre Urch

Carnival Ghosts | Alexandre Urch

Alexandre Urch começou a fotografar profissionalmente há mais de 10 anos, porém desde criança esperava ansiosamente por uma viagem, um aniversário ou qualquer outra oportunidade para utilizar a câmera fotográfica de seus pais, nem que fosse para fazer apenas um par de fotos, já que revelar e ampliar custava caro. E ele lembra bem das preciosidades que passaram por suas pequenas mãos: “tivemos uma Olympus Trip 35, Olympus Pen, Love, Kodak Instamatic e Polaroid e essas câmeras fizeram parte da minha infância, até uns 13 anos de idade”. Segundo ele, a partir daí até os 21 anos de idade, ficou adormecido o fotógrafo que carregava dentro de si. Até que ele comprou sua primeira SLR analógica, sem conhecimento nenhum, e começou a fotografar com alguma frequência.

Em 2001 ele comprou a primeira digital e começou a fazer alguns trabalhos de fotografia de produtos e culinária, além de assistência para outros fotógrafos, e também trabalhou em um grande laboratório fotográfico em São Paulo. Depois, começou a dedicar-se exclusivamente ao seu próprio trabalho, de forma independente. Formado em Design Gráfico, Urch nunca exerceu a profissão que lhe diplomou, mas utiliza muitas referências provenientes de sua formação em estética visual no seu trabalho como fotógrafo.

Alexandre Urch tem uma rotina extremamente fotográfica: “se não estou fotografando a trabalho, estou fotografando por lazer ou fazendo pesquisas para um próximo tema a ser fotografado”, diz. Inclusive quando está lendo, vendo filmes ou ouvindo música, ele pensa em fotografia.

Ele se define como um fotodocumentarista das ruas, do cotidiano. O fato de ser observador se tornou parte do seu trabalho. Documentar, para Urch, é acompanhar as transformações dos lugares, das pessoas e de seus contextos.

“Para mim toda foto, até a mais despretensiosa, é um documento, é uma prova visual de um acontecimento. Fotografias contam histórias e há uns cinco anos comecei a me interessar em fazer ensaios fotográficos sobre diversos lugares, manifestações religiosas, festas, etc, para poder me aprofundar mais no assunto que eu estava fotografando. E isso começou a dar um caráter mais documental ao meu trabalho, pois não passava apenas alguns minutos ou horas fotografando um lugar ou assunto, e sim dias, semanas e até meses. Com isso acabei conectando imagens feitas entre 2004 e 2008 com diversas imagens feitas hoje e vi que prédios foram construídos, outros demolidos, placas, comércio, casas, ruas, roupas, costumes, tudo foi sofrendo uma alteração nesse período que eu fotografei e acabei percebendo essa importância de documentar tudo isso.”

Everyday People | Alexandre Urch

E esse estar no mundo, fotografando em todo lugar e a todo momento, se encaixou perfeitamente com as possibilidades que vieram com a portabilidade das tecnologias digitais: ter um celular com câmera a tiracolo era o pretexto que Urch precisava para fotografar ainda mais e mais. Ele integra o coletivo UaiPhone, composto por 30 fotógrafos de 4 países diferentes, que adotam a fotografia feita com celulares como prática importante para o desenvolvimento da linguagem fotográfica.

E foi através do instagram (@aurch) que eu conheci seu trabalho como fotógrafo. Joana me mostrou um ensaio de Urch intitulado Carnival Ghosts, que me deixou de queixo caído. Como uma pessoa poderia produzir aquelas fotos apenas a partir de um iPhone e alguns aplicativos? Comecei a acompanhar cotidianamente o trabalho do Urch e, após várias curtidas, resolvi procurá-lo para conversar sobre seu trabalho e escrever este #Plataforma.

Carnival Ghosts | Alexandre Urch

Ele me explicou que seu sonho era ter ao seu lado, 24 horas por dia, uma câmera pequena, discreta e portátil, que tivesse qualidade para produzir fotos que pudessem ser bem impressas em, ao menos, tamanho A4 (30x21cm). O iPhone deu essa possibilidade ao fotógrafo, além de toda associação com a internet e as redes sociais e da ligação com a telefonia. Para ele, a câmera do celular é uma espécie de capa da invisibilidade que permite produzir fotos que ele jamais conseguiria fazer com outro tipo de câmera.

“Percebi o potencial dessa fotografia quando fiz uma impressão 15x15cm em papel de algodão de uma foto feita com o iPhone 3Gs em 2010. Acho que fui o primeiro fotógrafo no Brasil a fazer isso, e ao ver aquela foto no papel vi que tinha algo mais em minhas mãos além de um celular. Inclusive a foto impressa foi vendida no dia seguinte para uma decoradora. Aí percebi que além do potencial fotográfico existia um potencial comercial nas fotos feitas com o celular e passei a fotografar certos assuntos exclusivamente com o celular. Eu fotógrafo quase que diariamente com o celular, por diversão e a trabalho, pois já tive trabalhos encomendados que me foi pedido a utilização do celular para fazer as fotos e não de uma câmera convencional. Faço impressões de 60x60cm até 100x100cm com o IPhone 4s,que comprei pensando na utilização dele especificamente para fotografar. Além disso, acabei adquirindo lentes, tripés e outros acessórios para fotografar com o celular.”

O meu ensaio favorito, o Carnival Ghost, de que já falei, foi totalmente capturado, editado e tratado por Urch sem que saísse do celular. A proposta do trabalho foi utilizar o efeito de “panning” na captura e explorar algumas texturas nas fotos. Ele queria dar um ar mais abstrato e fantasmagórico às cenas de momo, que já havia fotografado em outros carnavais, porém de forma menos ousada. Utilizando um aplicativo que controla a abertura e a velocidade do clique, ele produziu toda a série, aproveitando inclusive as limitações que o celular trazia. Depois de finalizado o tratamento, ele imprimiu as fotos em 80x80cm, em papel de algodão, e pôs em uma galeria (a Lume Photos) para serem vendidas.

No caso do Carnival Ghosts, tudo foi pensado e planejado antes da produção das imagens. Mas muitos outros trabalhos dele surgem por acaso ou no meio do caminho de outra história. Alexandre Urch sabe criar diferentes tipos de imagens: de detalhes abstratos a cenas comoventes. E, para mim, o melhor de tudo é poder acompanhar esse processo cotidianamente, em tempo real, graças às novas plataformas digitais que ele tanto explora.

Sobre bellavalle

Fotógrafa, pesquisadora, professora da UFPB, mestre pela PUC/SP, doutoranda pela UFPE e amante da vida.
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