7Perguntas – Paulo Klein

A partir de hoje faremos pequenos ajustes no nosso blog. E para dar início a essas mudanças o #7Perguntas será publicado nas segundas-feiras, após um ciclo dos #Diálogos.

E nosso entrevistado de hoje é o jornalista, fotógrafo, crítico e curador de arte Paulo Klein. Atualmente, Paulo é o curador da exposição Luz da Fé, no Museu de Arte Sacra de São Paulo, e Yawanawa, no coração do mundo, no Galpão da Cidadania, na Zona Portuária do Rio, durante a Rio +20. Esta semana, Klein estará ministrando o Workshop de Curadoria em Fotografia e Artes Visuais na Imã Foto Galeria, na cidade de São Paulo.

Você afirma que a curadoria é um exercício criativo, onde é necessário ter ousadia e é preciso correr riscos para se fazer algo diferente. Conte um pouco da sua história. O que você avalia que foi necessário para sua formação como curador?

PK – Como iniciei minha vida (tempos remotos, rs) com a Poesia e a Fotografia – principalmente aquela que evoluiu junto com o Cinema – em tudo que realizei em minha modesta biografia sempre incluí a criatividade e a imaginação no sentido mais amplo. E claro que isto implica também em riscos e para se realizar uma curadoria responsável, pertinente, é necessário assumir riscos.

Mas considero que realizei em minhas curadorias, antes de exercícios criativos, exercícios reflexivos responsáveis, com pesquisas esmeradas, estudos sistemáticos, em aprofundamento na análise do objeto artístico a ser apresentado.

Portanto considero-me um curador que tem consciência da função, dos processos que envolvem uma curadoria, do necessário conhecimento da História da Arte, em particular a Contemporânea – e boa dose de imersão nas poéticas mais diversificadas.

Apesar de fotografar até hoje e de pensar em profundidade a Fotografia Autoral, acho que me minha contribuição à Fotografia se dá principalmente como curador consciente e criativo. Aí, penso eu, é que mora o segredo!

No prefácio do livro The Art Book Brasil Fotografias você afirma que, diante das mudanças que vem sofrendo ao longo dos anos, a fotografia necessita cada vez mais de reflexão e que, quanto mais cidadãos comuns conseguem produzir fotos satisfatórias, mais difícil fica eleger os gênios da categoria. Na sua opinião quem são os “gênios” da fotografia brasileira hoje?

PK – O que pretendi transmitir é que com a banalização da fotografia há que exigir grandes obras dos artistas da Fotografia. Qualquer artista hoje tem que ter, além de talento e sorte, boa preparação teórica e prática, mesmo que seja para não colocar em prática (rs) nem uma nem outra.

Sobre ‘gênios’ da Fotografia Brasileira hoje acho que não se trata de ‘gênios’ mas temos – sem dúvida – fotógrafos autorais geniais. O livro foi proposta minha para uma série que a Editora Decór concebeu e que destacava dez profissionais brasileiros (vivos) de algum gênero ou segmento artístico. Por meu envolvimento com a Fotografia Brasileira propus um exemplar dedicado à ela, mergulhei no projeto com a colaboração de minha filha Paloma e hoje, passados alguns anos – percebo que não alteraria o elenco de dez fotógrafos autorais brasileiros [Cassio Vasconcellos, Christian Cravo, Claudio Edinger, Claudia Jaguaribe, Eustáquio Neves, Gal Oppido, Mario Cravo Neto, Marcio Scavone, Miguel Rio Branco e Vania Toledo], todos atuantes naquele momento (o único que faleceu, pouco tempo depois, foi o Mário Cravo Neto). Mas tenho vontade de fazer outra curadoria no gênero mais abrangente, sem limitações, pois tenho certeza de que temos muitos fotógrafos autorais – vivos ou já falecidos – que merecem ser editados e comentados.

A fotografia vive hoje um momento de hibridização com outras mídias e outras linguagens, por vezes difíceis de associar. Como você avalia essas transformações e misturas dos próprios conceitos da fotografia?

PK – Sempre me interessei pela Fotografia no âmbito das Artes Plásticas, depois chamada Artes Visuais, hoje Arte Contemporânea (rótulos, rótulos!). Mas desde os fotógrafos inventores, que se confundiam com os pintores pré-impressionistas, desde os surrealistas com referências com Man Ray e Luis Buñuel até chegar-se às vanguardas do século XX e às novas tecnologias que começam por lá e hoje invadem as redes internéticas, sempre me interessei pela Fotografia por seu caráter revolucionário, por sua capacidade de se moldar a qualquer forma ao longo da história, nas Artes Visuais, no Cinema, amalgamando-se com praticamente todos os segmentos da Vida Humana.

Você acredita que há, no discurso sobre a imagem fotográfica, uma tendência a ser superficial? Os curadores possuem alguma responsabilidade crítica na formação de um discurso mais profundo sobre a fotografia?

PK – Existira, existem e existirão ‘discursos superficiais’ em  qualquer segmento, mas acredito que o exercício crítico-filosófico-curatorial responsável valoriza e amplifica o ‘poder’ e a ‘luz’ de uma obra artística. É nisso que acredito quando envolvo-me com um projeto curatorial.

O trabalho do curador é responsável pela construção de um recorte que não deixa de ser pessoal, subjetivo. Como você vê essa influência da subjetividade do curador no trabalho do artista?

Um curador não é um alfaiate. O artista pode ser subjetivo e o curador objetivo. E vice-versa. No entanto, o curador – assim como o artista – é um ente questionador e questionável.

Você acha que, com o crescimento do número de escolas de formação teórica em fotografia e artes visuais, há espaço para a formação de críticos e curadores nessas áreas?

PK – Percebo que a bibliografia internacional e mesmo nacional sobre Fotografia tem se ampliado e elevado os níveis de reflexão. Com grande atraso – vamos combinar – o Brasil tem hoje algumas ilhas de reflexão sobre a Imagem Fotográfica, que já contribuem com novos pensadores que – naturalmente – se dedicarão à reflexão acadêmica ou serão ativistas outsider. Os espaços para pensar Arte nunca estiveram tão promissores. Difícil é viver do ofício, difícil é se arriscar e (sobre) viver confortavelmente nestas novas fronteiras.

Nesse cenário que vivemos hoje com a fotografia como obra de arte cada vez mais fortalecida, quais questões, na sua opinião, se tornaram mais urgentes ao fazer fotográfico?

PK – O ‘urinol’ de Marcel Duchamp, as performances de Marina Abramovich, as ruínas de Polidori são projeções de mentes articuladas mas se projetaram através dos tempos através da Fotografia. Hoje pagam-se fortunas por um print de um grande nome da Fotografia Internacional, enquanto milhares de negativos e arquivos digitais de autores ‘geniais’ correm o risco de se deteriorar.

Eu, você, o Vik Muniz, todos nós temos arquivos fotográficos candidatos a figurar em alguma parede residencial ou de museu. Será que alguma destas imagens não reveladas pode valer milhões de dólares em algum leilão de arte do futuro? Talvez esta seja a maior angústia da Fotografia Contemporânea, mas a minha angústia, certamente seria a de não ter curado, revelado e exposto dignamente esta imagem fundamental.

*Dedicado ao artista e amigo Ju Côrte Real (1949-2012) que no dia de hoje virou Luz.

Sobre 7 Fotografia

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Uma resposta para 7Perguntas – Paulo Klein

  1. Paulo KLEIN disse:

    Obrigado pelo convite. Fora alguns erros de revisão, edição impecável.

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