Eu celebro esta imagem de Walter Carvalho neste momento…
Entrego-me em olhares pela delicadeza com que o homem-fotógrafo encontrou o homem-ator e com apenas um fragmento revelou-lhe. É um momento de tamanha intimidade que sinto medo de com palavras quebrar o encanto.
Suspiro enquanto escrevo…depois de vários minutos de mudez diante da fotografia.
É tão bonito perceber como o fotógrafo pede licença, devagarinho, entre a porta, para cultivar alguns minutos de atenção sobre o colega. Quase conseguimos ver os segundos que antecederam a percepção de estar sendo observado, que acompanhou a expressão formada no rosto de Raul. O instante em que aquele sussurro pede que guiemos nosso olhar para a direção apontada e encontramos o outro a se debruçar sobre nós. É muito lindo!
Um pouco mais de entrega e percebemos a maneira com que a luz ocupa a fotografia, atingindo a intimidade de seus grãos tal qual o fotógrafo chega nas sutilezas do ator. É uma simbiose cuidadosa entre técnica, estética e discurso que se sedimenta na visualidade oferecida por Walter Carvalho.
Esta imagem integra o livro Fotografias de um filme, dedicado ao filme Lavoura Arcaica. Uma obra que desconcertou meus brios. Um passar de páginas que desdobrou em lágrimas todo um desejo de tocar a fotografia de maneira tão delicadamente intensa. Um trabalho para deixar chegar perto e ver com calma – atento e silente – como quem escuta um segredo.
O encontro entre Walter e Raul é um dos ápices deste instante de celebração.
Um momento, por favor…eu preciso olhar de novo…
Um momento, por favor…eu preciso olhar de novo…