Diversas mesas do Fest Foto Poa debateram sobre a questão da salvaguarda dos acervos fotográficos particulares e públicos; e, também, sobre a maneira de lidar com a fotografia como dispositivo da memória.
Nadja Peregrino e Ângela Magalhães abordaram o tema na mesa Fotoclubismo no Brasil – o legado da Sociedade Fluminense de Fotografia; Fernando Bueno e Leopoldo Plentz mostraram o projeto do Instituto de Fotografia e Artes Visuais de Canela; Ana Maria Mauad e Silvana Louzada trouxeram a experiência do Laboratório de História Oral e Imagem (Laboi – UFF); e Carlos Carvalho, por sua vez, apresentou a plataforma de produtos e ações digitais do Fest Foto Poa, que servirão de portal de construção de conteúdo e memória do festival.
Todas essas iniciativas estão estruturadas em suportes diferentes (livros, acervo de imagens e áudios, instituto de guarda e fomento de ações de preservação e produtos digitais), mas entrelaçadas pelo desejo de contribuir para que iniciativas fundamentais para a trajetória da fotografia continuem sendo acessadas por quem se interessar por elas.
Pesquisa e livro

Ângela Magalhães e Nadja Peregrino participaram do Fórum Internacional de Livros de Fotografia, que compõe a programação do Fest Foto Poa, debatendo o Fotoclubismo e a herança da Sociedade Fluminense de Fotografia: Foto: Ana Lira
Nadja Peregrino e Ângela Magalhães trouxeram para a mesa o debate sobre a fotografia amadora, o fotoclubismo no Brasile a herança da Sociedade Fluminense de Fotografia. Peregrino debateu a contribuição do segmento amador para a trajetória da fotografia, mostrando imagens de acervos particulares que se destacam ora por cuidados técnicos e estéticos ora pelo desenvolvimento de uma linguagem fotográfica própria, em especial na realização dos retratos familiares. Estes acervos têm recebido cada vez mais atenção em pesquisas por apontar linhas de reflexão sobre esta produção específica no país.
Uma delas é a contribuição dos fotoclubes, que tinham como característica uma grande participação dos fotógrafos amadores. Ângela Magalhães afirma, contudo, que o termo amador é sinônimo de participantes apaixonados e dedicados ao estudo e difusão das imagens. Ela destacou que os fotoclubes sempre tiveram um papel fundamental na formação dos seus integrantes por meio da promoção de cursos, discussões e concursos que visavam o crescimento da fotografia, a disseminação e premiação dos trabalhos destacados.
Um dos empecilhos criados pela dinâmica de diversos fotoclubes no Brasil, contudo, foram as camisas-de-força estabelecidas em torno da técnica e dos sistemas de enquadramento e composição. Elas impediam a livre criação dos participantes e foram responsáveis pelo afastamento de fotógrafos que gostariam de ampliar suas relações com a linguagem fotográfica.
Nadja Peregrino e Ângela Magalhães mostraram que a Sociedade Fluminense de Fotografia nasceu em uma dessas rupturas e foi responsável por um movimento distinto no setor fotoclubista do país. Sua organização e práticas atraíram diversos amantes da fotografia, a ponto da SFF conseguir pautar o nome da fotografia nacional na Europa, por vias distintas do mercado profissional, e erguer uma sede (linda!), que ainda funciona no Rio de Janeiro.
É neste espaço que os atuais gestores da SFF continuam desenvolvendo ações fotográficas e administrando o acervo das imagens, diversas publicações e documentos que fazem parte da trajetória do grupo, que em 2014 completa 70 anos de fundação. A pesquisa de Peregrino e Magalhães foi publicada recentemente no livro Fotoclubismo no Brasil – o legado da Sociedade Fluminense de Fotografia, que deu o tema da mesa no Fest Foto Poa. A publicação foi lançada pela editora Senac e está sendo comercializado nas livrarias do país.
Casa da Fotografia em Canela

Fernando Bueno reúne público interessado em discutir os caminhos para o Instituto de Fotografia e Artes Visuais de Canela. O projeto está em processo de articulação de patrocínios e deve ser iniciado em 2013 | Foto: Ana Lira
Nem todos os grupos e fotógrafos do país têm condições de erguer uma estrutura semelhante à Sociedade Fluminense de Fotografia, de modo que vários acervos importantes hoje penam para conseguir um espaço ou instituição que os abrigue. Existem algumas iniciativas privadas pelo país que se propõem a salvaguardar acervos de fotógrafos. Porém, pelo caráter próprio dos financiadores, os acervos acabam condicionados ao uso comercial e regras de veiculação estabelecidas pelos mantenedores, que nem sempre estão sintonizados com os interesses do meio fotográfico.
Inspirado no Center For Creative Photography, da Universidade do Arizona, deve ser concretizado no Brasil, mais propriamente na cidade de Canela (RS), a Casa da Fotografia (Instituto de Fotografia e Artes Visuais de Canela). O projeto está sendo articulado por Fernando Bueno, com acompanhamento de diversos profissionais do Rio Grande do Sul, entre eles o fotógrafo Leopoldo Plentz. Eles apresentaram o projeto completo do espaço, que deve agregar um completo centro de preservação, galeria, loja, espaço para desenvolvimento de cursos e centro de pesquisa.
Todo o projeto foi discutido durante o Fest Foto Poa e o público presente ao festival pôde oferecer sugestões de atividades a serem desenvolvidas quando o centro estiver em andamento. Entre elas estavam a criação de um programa de bolsas de pesquisa e residência para a formação de especialistas na área de conservação e preservação de fotografias analógicas e digitais para atuação em outras regiões do país, além de um investimento constante na formação continuada de profissionais para gestão de seus próprios acervos.
Fernando Bueno crê, contudo, que uma das principais contribuições da Casa da Fotografia de Canela vai além do meio fotográfico, ao trazer para o cotidiano da cidade possibilidades de formação e especialização em áreas de conhecimento diferentes do turismo – hoje, a principal atividade do município. Segundo ele, inclusive, a população de Canela está bastante animada com a possibilidade de efetivação do projeto pelas diversas perspectivas que ele oferece para uma renovação dos interesses da cidade.
Bueno espera efetivar os patrocínios até o final de 2012 para iniciar a restruturação do espaço as atividades em 2013. Eles esperam com isso solucionar, inicialmente, a grande demanda de cuidados com acervos de grandes fotógrafos do país e oferecer uma gestão que dialogue com o meio fotográfico. A iniciativa espera, também, incentivar projetos semelhantes no país, uma vez que, por maior e bem estruturado que planeja ser o instituto, ele e nem um outro sozinho tem condições de salvaguardar toda a produção fotográfica brasileira.