
Foto sem crédito | multamoral.com
As redes sociais são o principal fenômeno cultural dos últimos dez anos. Não é à toa que se tornaram um mercado poderoso da economia mundial e fizeram de Mark Zuckerberg um dos nomes mais influentes da década. Segundo dados do próprio facebook, a rede já atingiu mais de 900 milhões de usuários cadastrados e faturou US$ 1,058 bilhão somente no primeiro trimestre do ano.
Nesse universo, a fotografia tem um papel definitivo, e cerca de 300 milhões de fotos são enviadas diariamente. As fotos pessoais ainda são maioria nesse tipo de conteúdo e substituem muitas vezes a tradição de manter galerias de retratos permanentes de familiares e amigos. Os atos de expor a intimidade e forjar uma realidade fazem parte desse contexto e produzem algumas rusgas não só na nossa vida pessoal.
Muitos são os casos em que a exposição trouxe consequências negativas inclusive profissionalmente – como a notícia de que uma enfermeira pernambucana foi demitida com justa causa por postar fotos tiradas em local e horário de trabalho (mais aqui).
De forma irônica, são também cada vez mais comuns as referências negativas à função “marcar foto” que nos possibilita “citar” uma determinada pessoa numa fotografia publicada (mais aqui). “A internet é um espaço público, sem restrições, mas com seus próprios perigos. As pessoas não podem esquecer disso. É preciso ter muita atenção ao que fazem na internet, porque tudo o que você grava é registrado. É muito particular (o uso da internet), mas a internet não é particular, não existe isso”, comenta Pierre Levy. Mas não é só das fotos de ontem que se faz o facebook, completa o filósofo (mais aqui).

Foto sem crédito | multamoral.com
Não é à toa que o discurso visual repercute de forma eficaz entre os usuários da rede. Motivados por uma timeline constantemente atualizada e conquistados visualmente de forma mais rápida do que textualmente, muitos perfis e páginas oficiais têm priorizado o uso de imagens mesmo que para a divulgação de informações textuais. Se por um lado, isso modifica a comunicação oficial, por outro, também influencia a comunicação amadora e fortalece a mídia cidadã.
Diante da força da repercussão desses “textos visuais”, é crescente o número de imagens com cunho denunciativo e político-social na rede. Nesse contexto, não só a popularização das plataformas de publicação mas principalmente o desenvolvimento de novas plataformas de registro, entre elas a câmera de celular, tem tornado o usuário, conectado e “armado” de sua ferramenta digital, um ativista em potencial, pronto para registrar imagens que ilustrem aspectos pelos quais ele se vê impelido a lutar.
No facebook, diversos grupos se articulam dessa forma, utilizando as imagens como instrumento principal de articulação de discurso, defendendo direitos, como as questões da mobilidade – um dos temas mais discutidos nas redes sociais hoje em dia. Entre esses grupos de maior destaque, vale à pena mencionar a Multa Moral, movimento que vem repercutindo de forma diferente em diversas regiões do país (link para página da Multa Moral no Recife.)
A iniciativa, ao menos teoricamente, permite a um cidadão de forma geral “multar” quem estaciona em local proibido. Teoricamente porque não é obrigatório a ninguém que tenha sido agraciado com a multa (de R$50,00 que devem ser revertidos para uma instituição de caridade) o efetivo pagamento do valor, mas a alternativa ganha força pela reflexão que causa e pela repercussão que tem provocado.
E essa repercussão se faz com as imagens divulgadas nas redes sociais. Carros estacionados em calçadas, impedindo o livre caminhar dos transeuntes, tomando o espaço de faixas de pedestre ou vagas para portadores de necessidades especiais e idosos são os principais alvos do projeto, que também abre espaço para a divulgação de flagras de desrespeito a outras normas de trânsito e à segurança dos ciclistas.
Em São Paulo, a iniciativa virou site (multamoral.com). ” Tivemos essa ideia partindo do princípio de que todo mundo tem câmera no celular, o que torna esta fiscalização muito mais fácil. Não achamos que o dono vai entrar no site e se sentir constrangido ao ver seu carro flagrado ali, sabemos que não funciona assim. Nossa intenção não é vigiar para punir, mas vigiar para educar: a gente quer criar o hábito das pessoas se indignarem diante das arbitrariedades no trânsito”, afirma, em entrevista a O Globo, Renato de Almeida Prado, de 35 anos, um dos criadores da página.
E completa “não é que as pessoas estejam mais indignadas agora. O que acontece é que estamos cada vez mais conectados. O número de pessoas que passa o dia com o Facebook aberto dobrou de 2010 para 2011. Essa é a base do que a gente acredita: se estamos o tempo todo em rede, precisamos atuar em rede”.
A fotografia parece estar recebendo bem essas novas formas de atuação.