Hoje, eu começo meu Diário de Bordo sobre o Pequeno Encontro da Fotografia. Eu digo logo de início que será um relato bem pessoal do evento por uma série de razões que explicarei a seguir. É um encontro que reúne amigos antigos, novos parceiros, intercâmbios que se acredita serem essenciais para o circuito fotográfico da região. Um respiro para pensarmos e celebrarmos juntos, no meio de tantas inquietações que a produção independente em fotografia nós coloca no cotidiano.
Assim, explicando o motivo do meu relato pessoal, eu digo que o Pequeno Encontro da Fotografia surgiu na minha existência quando ele ainda nem tinha esse nome instigante e nem eu sabia que participaria com o Trotamundos como convidada do evento. Ele era uma ideia que Eduardo Queiroga, Mateus Sá e Mila Targino começaram a desenhar depois que o meio fotográfico local entrou em um profundo processo de reflexão sobre o seu papel e contribuição para a fotografia brasileira.
Sim, por que a fotografia para nós não é simplesmente uma expressão pessoal e os encontros não são meros eventos. Sentamos, refletimos e celebramos quando as coisas saem como queremos e sentamos, refletimos e buscamos outros caminhos quando perdemos o chão. O Pequeno Encontro da Fotografia foi este outro caminho. Foi o momento em que os diversos circuitos que permeiam a fotografia pernambucana se encontraram para rever a própria trajetória, as questões que lhe são pertinentes, os processos de criação e intercâmbio que desenvolvem e as bases políticas que alimentam e sedimentam suas ações.

Cartaz do Pequeno Encontro da Fotografia | Criação da Zolu Design mostra pontos que articulados formam um obturador fotográfico. Proposta que contempla as bases de reflexão do meio local.
Em 2011, eu deixei minhas pequenas contribuições para a reflexão e migrei para Sergipe, de onde continuei acompanhando de longe as discussões que vêm envolvendo a cidade. Em seguida, pude ver de perto seus desdobramentos no painel apresentado no Encontro Norte Nordeste de Produtores Culturais da Fotografia (ENNEFOTO) e, há cerca de um mês e meio, na discussão de abertura do #Mesa7. Uma fotografia que encara para seus conflitos e busca diálogos e articulações baseados sobretudo no afeto. Um sentimento que permeou as escolhas da primeira edição do evento e cuja síntese está presente no texto A Fotografia de Um Primeiro Encontro, a carta aberta que Pri Buhr veiculou há alguns dias aqui no blog e que eu reforço a leitura neste momento.
Esta carta é uma imagem do que nos é importante e eu digo, sem ressalvas, que muito do que eu produzi em Sergipe – em termos de ações, projetos, discussões e inquietações – eu devo à minha formação acompanhada por essas pessoas. Mila Targino e Mateus Sá foram dois dos meus primeiros professores de fotografia. Ela despertou minha paixão por histórias da fotografia, processos alternativos e discussão política como forma de criação. Ele foi responsável pela existência das palavras carinho, busca e transformação no meu dicionário fotográfico. Eduardo Queiroga é meu anjo-da-guarda fotográfico. Foi a primeira pessoa que se dispôs a ler meu portfólio, me ensinou o que era linguagem fotográfica, me colocou conflitos como desafio de crescimento e tem a paciência de um monge tibetano com meus interrogatórios sobre produção criativa.

Sabrina Carvalho na correria da produção e Eduardo Queiroga dialogando com a turma que o pessoal que estava na lista de espera das oficinas e leituras de portfólio | Foto: Ana Lira
É impossível falar do Pequeno Encontro da Fotografia sem falar destas três pessoas porque o meu olhar sobre o projeto vem, primeiro, do meu olhar sobre elas e das crenças que eu tenho em seus trabalhos, e, segundo, das diversas conversas que traçamos durante esse período. Tanto como convidada quanto como amiga, eu acompanhei os teares que deram forma ao enredo desse encontro e por isso fiz questão de fazer esse Diário de Bordo, mesmo que minhas companheiras do 7 alegassem que eu tivera muito trabalho depois da longa cobertura do Fest Foto Poa.
Se o problema for esse, eu digo logo: todo trabalho afetivo é recompensador. Produzir conteúdo sobre o Pequeno Encontro não é nada mais do que transformar a felicidade que eu sinto neste momento em palavras e fotografias – e assim será até sábado, quando o encontro termina. As atividades iniciaram ontem para os participantes. Durante a tarde iniciaram as oficinas de Ricardo Peixoto, Alexandre Sequeira e do coletivo Media Sana. O bacana dessas iniciativas é que a gente sempre conhece melhor os trabalhos de pessoas com quem temos pouco contato e vemos novas propostas trazidas por pessoas de outros estados. Sequeira me contava no começo da noite que a sala dele estava lotada e estava radiante com as perspectivas de debate trazidas pela turma.
A turma do Media Sana estava o tempo circulando e produzindo conteúdo, acompanhada pelos integrantes do coletivo. Por conhecer o trabalho deles, eu já consigo imaginar que muita coisa instigante vai surgir até o final do evento. Este ano eu optei por não concorrer a vagas nas oficinas e leituras de portfólio. Além de estar envolvida no evento com o Trotamundos, a moçada de Sergipe trouxe duas exposições para montar no Iphan de Olinda e eu fiquei responsável por essa organização. Então, enquanto os demais se envolviam nas propostas de Peixoto, Sequeira e do Midia Sana, eu estava na correria, fechando os detalhes da mostra Taiê, de Alejandro Zambrana, e do projeto Êxodo, de Victor Balde e Gabi Etinger.
Todas as exposições foram inauguradas no começo da noite desta terça-feira, junto com um circuito gastronômico. Alguns restaurantes da cidade de Olinda abriram seus espaços para receber mostras fotográficas, junto com os circuitos existentes no Iphan, Salão do Mercado da Ribeira e do Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), localizado no Alto da Sé, em Olinda. Estas exposições foram articulações realizadas entre a equipe do Pequeno Encontro e diversos fotógrafos e artistas visuais. Quem tinha um projeto pronto para expor, e aceitou o convite da produção, recebeu um espaço no Sítio Histórico de Olinda.
Deste modo, a primeira noite do Pequeno Encontro fez jus ao nome do projeto. Foi um momento em que as pessoas circularam e foram se encontrando nos espaços expositivos, nas propostas das mostras, na diversidade de diálogos visuais, na descoberta de novas afinidades e nas delícias da culinária local. Por sinal, depois de quatro dias intensos de correria com o recebimento do material e a montagem das exposições, esta foi a minha experiência mais singular no evento: caminhar pelas ladeiras de Olinda, acompanhada de antigos parceiros de produção fotográfica (Claudia Jacobovitz e Rildo Moura, com quem comecei no Grupo Paspatu), para ver as exposições.
Pelo meu próprio processo de observação (eu demoro muito olhando cada imagem) não pude ver todas as mostras na abertura, mas verei até o final do evento. Entre as que eu vi até o momento, eu gostei muito de várias propostas e algumas fotografias e projetos devem compor meus futuros Olhando Pra Sempre e Plataforma. Uma imagem de Guga Pimentel, especialmente, mexeu bastante com meu coração, mas não vou publicá-la porque ela está entre as que quero escrever em breve. Publico outra, igualmente bela, para vocês.
Hoje o encontro continua com diversas atividades. Daqui a pouco, eu saio correndo para Olinda para receber cerca de 40 alunos de uma escola pública que vai nos visitar. Hoje, também é dia de receber o mestre Eustáquio Neves, que há muito se desejava convidar para um diálogo nesta terrinha querida. Amanhã chegam meus demais companheiros de coletivo, a caríssima Paula Sampaio e Ronaldo Entler, que palestrarão na sexta-feira, e outros fotógrafos queridos que virão de outros estados nos visitar.
Fico aguardando, também, a visitinha das minhas companheiras de blog para ampliar os diálogos pessoalmente. Espero que elas possam encontrar momentos nas agendas atribuladas de jornalistas e educadores para viver um pouquinho desse momento tão bonito que está sendo o Pequeno Encontro da Fotografia =)
Uma nota: queria agradecer imensamente mesmo ao pessoal que trabalha nos bastidores do encontro, que já esteve no lugar deles sabe o que é fazer fotografia de guerrilha. Admiração, sempre!
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lindo amiga!!! Vamos seguindo na guerrilha!!!
Emocionante Aninha¨¨
Começa com força este diário. Por vezes perder o chão nos dá a possibilidade de flutuarmos por aí, sem tantas certezas, mas com leveza. Vou acompanhar esta ‘pequena fotografia’ por aqui.
Bjs, Lívia
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