6 respostas para Diálogo 68 – Ensaio: uma necessidade?

  1. Cecilia Urioste disse:

    Engraçado Ana, ontem eu estava justamente falando isso no meu grupo de estudo.
    Na minha quase modesta opinião, os formatos dentro da arte devem ser para ampliar os horizontes e não restringir.
    Muitas vezes vejo discursos excludentes, onde só é possível um formato sendo todos os outros ¨errados¨.
    Dentro da fotografia esse excesso de regras é ainda pior. Tem regra para tudo e a função fundamental que é a de comunicação acaba sendo sufocada.

    Quanto à questão dos ensaios, o mesmo Eder virou minha cabeça pelo avesso quando pegou uma foto de cada ensaio meu e transformou em uma série muito mais forte.
    Foi nessa hora que percebi que cada imagem funciona como uma palavra e que pode ser aplicada e reaplicada em frases completamente distintas.
    Algumas ¨palavras¨ comunicam sozinhas. Outras precisam de uma frase mais curta ou mais longa. Outras precisam de várias frases.
    Depende do que se quer comunicar.

    O que observo é que quando se tem propriedade do discurso, esse fio condutor entre uma fotografia e outra aparece naturalmente.
    A forma como foi concebida a imagem é problema de quem cria.
    E aumentando um pouco a questão, nem todo fotógrafo precisa ser ensaista, ou artista, ou fotojornalista para ser um bom fotógrafo.
    Essa cobrança onde coloca uma forma superior à outra, acaba sendo uma armadilha que deixa muitos bons fotógrafos travados.

    Não achas?

    • Ana Lira disse:

      Oi Cecília!

      Obrigada por contribuir com o diálogo trazendo questões interessantes.

      Olha, eu acho que ter propriedade do discurso sobre o seu próprio trabalho é uma construção que precisa ser feita de uma maneira muito dedicada – e tenho dúvidas se isso é uma realidade majoritária na fotografia.

      Estamos dando passos importantes com a quantidade de circuitos de formação, informação e discussão que estão se criando (ou reavivando – porque esses fluxos aumentam e retraem de tempos em tempos, dependendo do momento vivido pela Fotografia no país).

      Contudo, ainda existem muitas lacunas e muitos espaços para serem ocupados neste processo de formação/informação/discussão que envolve a fotografia, da mesma maneira que encontramos algumas resistências a mudanças e novas perspectivas, também.

      O que eu sinto é que a gente precisa continuar incentivando os debates como forma de sentir o meio, ouvir as pessoas e de incentivar esse destravamento dos processos criativos – e eu fico agradecida de te ver colaborando com isso, também!

      Um cheiro!

  2. Oi Ana, vou contribuir um pouquinho aqui pra discussão.

    Acredito que esse “problema” apontado por você tenha muito mais a ver com a questão de terminologia do que qualquer outra coisa. É problemático para nós brasileiros não sabermos definir por completo o que é um ensaio e o que é uma série, por exemplo.

    No próprio World Press Photo, trabalhos de reportagem fotográfica inscritos provavelmente seriam chamados aqui de “Ensaio”. E nem sempre são.

    Tenho visto em bastante concurso ou inscrições em festivais de fora do Brasil que o pré-requisito também é parecido com o nosso, mas eles geralmente não utilizam “Ensaio” como termo, e sim o tal do “Body of Work”. O que é muito mais abrangente, muito menos limitador.

    O “Body of Work” deles pode ser sim um ensaio, assim como uma série de imagens que se relacionam de alguma forma ou uma reportagem fotográfica sobre determinado assunto, etc.

    Não sei definir um termo em português para “Body of Work”, mas uma expressão mais nesse sentido talvez criasse menos problemas e limitações na cabeça da galera.

    Tomemos como exemplo o Prêmio Porto Seguro de dois anos atrás, de 2010. O tema do próprio Prêmio era “Ensaios”. Mas na categoria “São Paulo” não foi premiado um “Ensaio” e sim uma “Série” de fotos sobre São Paulo, do fotógrafo Tuca Vieira. Com certeza super bem editado, nada sobrando, fotos lindas, um trabalho belíssimo. Mas não era um “Ensaio”. Então, veja você como há confusão de terminologias já na cabeça de quem cria esses regulamentos.

    O alemão Gursky não poderia participar de um prêmio brasileiro que tenha como pré-requisito um “Ensaio”? Quem escreveu esse regulamento sabia mesmo o que estava querendo? É muito provável que não sabia.

    No Prêmio Porto Seguro deste ano, agora Prêmio Brasil de Fotografia, também se solicitava que fossem “Ensaios” os trabalhos inscritos. Mas Letícia Ramos e Carlos Dadoorian, vencedores na categoria de Pesquisas Contemporâneas, inscreveram seus trabalhos que não tinham definitivamente nada a ver com um “Ensaio”. E foram premiados.

    Então, reforço: a questão é a terminologia. Pensar em como definir o termo desse pré-requisito talvez seja algo muito urgente.

    E conversando com sua colega de blog Priscilla Buhr sobre essa questão, comentei sobre uma edição da revista Serrote (edição 9) que tem um texto belíssimo da escritora Cynthia Ozick defendendo uma idéia do que é um “Ensaio”. Ela se refere a ensaio literário, claro, mas é perfeitamente possível trocar o termo para “fotográfico” e o texto servir também para nós fotógrafos. Cito aqui abaixo alguns trechos do texto, que se chama “Retrato do ensaio como corpo de mulher”:

    “Ensaio é imaginação.”

    “Um verdadeiro ensaio não serve a propósitos educativos, polêmicos ou sociopolíticos: é o movimento de uma mente livre quando brinca.”

    “O ensaio não se presta às barricadas: é um passeio pelos labirintos pela mente de alguém.”

    “Artigo é fofoca. Ensaio é reflexão e intuição. O artigo tem a vantagem temporária do calor da hora social –o que está acontecendo lá fora no exato momento. O calor do ensaio é interior.”

    “Como um poema, um verdadeiro ensaio se faz com linguagem, personagem, atmosfera, temperamento, garra e acasos.”

    É isso!

    Beijos procês!

  3. tia ceça disse:

    bela e arguta reflexão! só uma correção: o texto da Beatriz Fiuza tá no n. 04…
    bjs

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