Faz tempo que penso em escrever sobre as fotografias que Hélia Scheppa faz para o Instagram mas de alguma forma pensava que precisava tentar escrever um texto mais imparcial e percebia que não seria uma tarefa lá muito fácil porque Hélia é além de uma grande profissional é uma grande amiga, uma verdadeira irmã. Fiquei um tempão rascunhando palavras, tentando escrever de forma menos pessoal mas me dei conta que não existe imparcialidade quando uma fotografia mexe e emociona a gente. E resolvi assumir uma escrita passional (nesse caso a escrita apaixonada virou o antônimo da escrita imparcial) sobre o trabalho dessa pessoa que tanto admiro.

Hélia Scheppa
Uma admiração que me acompanha desde que decidi me tornar fotógrafa. Me lembro bem de quando estagiava em uma assessoria de imprensa e fazia a clipagem dos jornais locais aqui de Recife. Confesso que prestava mais atenção nas fotografias do que nos textos que precisava selecionar. Acabei criando o hábito de recortar as fotografias que eu gostava e fui colocando em uma pastinha azul turquesa com uma etiqueta escrita com caneta preta a palavra “inspiração”. Com o tempo comecei a olhar as fotografias e tentar identificar o fotógrafo sem olhar o crédito. Alguns fotógrafos tinham uma identidade visual muito forte e eu sempre acertava. A campeã dos acertos era Hélia Scheppa. E foi ali, naquela clipagem diária chata, em meio aos jornais e aos copos de café que eu me apaixonei pelo trabalho dela.
Um tempo depois passei no teste e fui contratada como estagiária da fotografia do Jornal do Commercio. Cheguei super verdinha na redação e extremamente feliz, principalmente porque eu ia trabalhar com um monte de fotógrafo que eu admirava e que enchiam minha pastinha de fotografias lindas. No meio do ‘monte’ estava lá, Hélia. Eu sempre fui muito tímida e durante o tempo todo do meu estágio nunca consegui dizer para ela o quanto a sua fotografia me tocava e que era incrível poder trabalhar ao lado de uma grande referência na fotografia para mim. O tempo passou, fiquei 2 anos longe das redações e em 2010 voltei para o jornal e a vida acabou nos aproximando. De fã, virei amiga, mas ainda assim, fã.
Pois bem, vou deixar de lado esse preâmbulo saudosista e falar do que interessa: o Instagram de Hélia Scheppa. Na verdade vou precisar mexer um pouquinho mais nas memórias para falar dessas fotografias. Me lembro bem do dia que Hélia chegou para mim com a dúvida se comprava um iPhone ou uma câmera compacta. Eu tinha acabado de comprar o meu iPhone e estava bem naquela fase de ter milhões de app’s de fotografia e de estar descobrindo aquele celularzinho com uma ótima ferramenta para fotografar de maneira solta, leve, quase como uma brincadeira, e acabei fazendo uma super propaganda para ela, que acabou escolhendo o iPhone. Também lembro muito de ter comentado com Alexandre Severo, grande fotógrafo e grande amigo nosso também, que Hélia iria barbarizar com aquele celular na mão. E a resposta de Severo foi essa: Helinha barbariza fotografando com qualquer coisa. E eu emendei: vai vir coisa bonita por ai, anota isso.

Hélia Scheppa

Hélia Scheppa

Hélia Scheppa
E veio. Tem vindo. E a cada dia, o Instagram de Hélia fica mais bonito. No meio do grande universo de fotos de pratos de comida, autorretratos em baladas e gatos e cachorros fofinhos que dominam o Instagram, posso dizer sem medo e sem exagero, que o perfil de Hélia é um dos mais bonitos e ricos fotograficamente que já vi nessa rede. Alguém pode até pensar que é muito fácil fazer fotos bonitas com um iPhone, afinal existem centenas de aplicativos de câmeras legais e filtros bonitinhos e de fato, isso é verdade. Mas não, a fotografia de Hélia no Instagram não se sustenta por esses motivos. Ela vai além. O que se sobressai é o olhar, a sensibilidade e isso nenhum filtro consegue colocar em uma fotografia, isso vem da fotógrafa, vem de dentro.

Hélia Scheppa

Hélia Scheppa
A grande maioria das fotos que Hélia posta no Instagram são fotos produzidas no entre pauta. O que a gente chama do olhar ao redor, além da matéria que estamos alí para fotografar. São pessoas e lugares que ela esbarra todos os dias enquanto trabalha. Situações comuns, de beleza simples, porém cheias de significados e força. São fotografias que enchem os olhos, que colocam um monte de exclamações nas nossas falas. Hélia fotografa e cuida de suas fotos com carinho (não existe pressa, ela não fotografa e sai postando tudo na doida, existe toda uma pós produção pensada e executada com calma que faz toda a diferença) e a gente se sente acarinhada quando bate os olhos em seu trabalho.

Hélia Scheppa
E umas das coisas mais lindas e delicadas do Instagram de Hélia é a série “É cedo!”, que ela vem realizadando desde novembro de 2011 durante as visitas que faz à sua avó, de 96 anos, Naná. São imagens que retratam a rotina em que ela vive, o amor, o carinho e o cuidado entre neta e avó. O nome do trabalho surgiu a partir da frase sempre dita por Naná na despedida dos encontros quase diários: “vai não fia, é cedo!”. “É cedo!” é um ensaio que acalanta a alma, que faz a gente pensar com carinho nas pessoas que a gente ama, que faz a gente querer estar perto e cuidar dos nossos queridos. É difícil encontrar palavras tão belas e delicadas para descrever esse trabalho, tudo que penso me faz parecer piegas. Tem sentimentos que a gente não consegue descrever e esse trabalho é como um desses sentimentos, não precisa de definições e explicações, basta deixar os olhos sentindo e o coração pulsando.

É cedo | Hélia Scheppa

É cedo | Hélia Scheppa
Para quem quiser seguir Hélia no instagram o perfil é @heliascheppa e quem não tiver o aplicativo, da pra vê tudo nesse link aqui http://instagram.com/heliascheppa.
acho que, com o instagram, hélia se completa e mostra maturidade enquanto fotógrafa. acompanho sem trampo como fotojornalista e sei que ela traz com competência a crueza do cotidiano, mas assim como qualquer profissional da área tem o leque de possibilidades tolhido pela pauta. já com o celular, tem a chance de “brincar”; de dar vazão a tudo aquilo que por ventura não pode fazer no trabalho, produzindo fotos que buscam diálogo com o imaginário, não com o real.
falo em maturidade pelo fato de ver no instagram de hélia a sensibilidade e os jogos de significação que habitam o trabalho dos melhores. ela apresenta excelentes imagens fazendo uso de um aparelho ainda com limitações técnicas para a fotografia profissional. ou seja, o olhar sobressai. e não trabalha o principal recurso do aplicativo – os filtros – como mero enfeite. ela os usa muito bem como componente da identidade de sua produção fotográfica. a gente olha pra foto e pensa: “isso é de helinha”.
além de competência com toda a parafernália que o fotojornalista precisa carregar, a senhorita scheppa tem nos revelado também um trabalho autoral muito consistente usando apenas um celular. completa e madura por isso.
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