Plataforma – Marina Abramovic Made Me Cry

Foto Marco Anelli

Foto Marco Anelli

O olho da rua vê

o que não vê o seu.

Você, vendo os outros,

pensa que sou eu?

Ou tudo que teu olho vê

você pensa que é você?

Paulo Leminski

Em 2010, o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque) organizou uma grande retrospectiva do trabalho de Marina Abramovic, uma das artistas mais consagradas da arte da performance. Seus 40 anos de carreira se fizeram presentes na mostra com performances solos e coletivas, feitas por outros artistas, além das intervenções, peças sonoras, vídeos e fotografias que compõe a sua obra.

Mas além de recordar o seu trabalho, Marina criou uma nova performance, A artista está presente, em que ela ficou sentada, em silêncio, por mais de 700 horas, enquanto os visitantes da mostra revezavam-se em uma cadeira em frente à dela.

Foto Marco Anelli

Foto Marco Anelli

Um trabalho aparentemente simples, uma mulher sentada em uma cadeira olhando para uma outra pessoa. Entre elas uma mesa e ao redor um espaço vazio, cercado por um público-plateia, que esperava ávido a oportunidade de sentar-se frente à artista.

Quando assisti ao documentário A artista está presente (que pode ser visto online), me perguntei o que acontecia naquele pequeno intervalo de espaço-tempo e o que a artista trocava com quem sentava ali. Qual era a relação que se estabelecia entre ela e o público? O que tanto inquietava as pessoas? O que tanto passou a me inquietar?

A artista está presente me parece uma obra sem limites, que se desdobra em exposição, performance, filme e fotografia. Cada uma trazendo as especificidades de sua própria linguagem, ampliando indefinidamente o trabalho.

E é essa ampliação que sinto quando olho os retratos do fotógrafo Marco Anelli, que viraram um livro chamado Portraits in the presence of Marina Abramovic.

Foto Marco Anelli

Foto Marco Anelli

Mas o recorte que eu trago para este plataforma são as fotos do tumblr Marina Abramovic Made Me Cry, que retratam algumas pessoas chorando durante a performance.

Ter o tempo a meu favor para olhar esses rostos que choram, que choraram, diante de uma relação sem mediações, em tempos de estímulos quase permanentes, me traz inúmeras perguntas, que não precisam ser respondidas.

A possibilidade do choro, das inquietações e, especialmente da falta de necessidade de respostas, me trazem insistentemente um verso do Leminski: Ou tudo que teu olho vê você pensa que é você?

Foto Marco Anelli

Foto Marco Anelli

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