Plataforma – Um beijo para Feliciano

Laerte convocou os cartunistas da Folha de S. Paulo e hoje, dia da primeira reunião da Comissão Extraordinária dos Direitos Humanos e Minorias (em São Paulo, Praça Roosevelt), Angeli, André Dahmer, Allan Sieber, Adão Iturrusgarai, Fernando Gonsales e Caco Galhardo fizeram um beijaço na ‘cartuns diários‘ do jornal.

cartaz da chamada para a Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias

Cartaz da convocatória para a Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias

quadrinhos 25/04/13 | Folha de S. Paulo

quadrinhos 25/04/13 | Folha de S. Paulo

Os quadrinhos foram publicados na versão impressa e geraram a maior repercussão nas redes sociais. Uma adesão incrível, pelo menos na minha timeline.

Como fã, cada vez mais orgulhosa do caminho percorrido por Laerte, considero que um chamado dele para essa discussão é um convite irrecusável e, por isso, faço questão de trazer para o #Plataforma desta semana esse debate que se torna tão urgente num país como o nosso, em que as minorias são, na verdade, a grande maioria da população, formada por negros, índios, gays, mulheres, transexuais e diversos outros grupos sociais politicamente desfavorecidos.

E no meio da minha defesa pelos nossos direitos humanos tão esculachados hoje em dia, faço o meu questionamento sobre o papel da fotografia nesse contexto. Penso isso porque não é preciso muito aprofundamento na história da fotografia para reconhecer o papel muitas vezes político que algumas imagens de beijos podem assumir. Beijos famosos como o fotografado por Alfred Eisenstaedt em 45, quando os americanos saíam às ruas para comemorar o fim da Segunda Guerra. Ou o beijo entre padre e freira fotografado por Toscani na propaganda da Benetton. Ou ainda o beijo de Lennon em Yoko, clicado por Annie Leibovitz apenas cinco horas antes do assassinato do ex-beatle, em dezembro de 1980.

O Beijo, 1945 | Alfred Eisenstaedt

O Beijo, 1945 | Alfred Eisenstaedt

Beneton | Oliviero Toscani

Beneton | Oliviero Toscani

Foto: Annie Leibovitz, 1980

Foto: Annie Leibovitz, 1980

Foto: Richard Lam

Foto: Richard Lam

Um beijo mais recente, entre o casal Scott Jones e Alexandra Thomas, no meio de um conflito entre torcedores de hóquei e a polícia canadense, virou símbolo da força do amor em meio à violência e se tornou clipe. E, no Brasil, diversos artistas se mobilizaram para mandar o seu recado a Marco Feliciano, o primeiro presidente fascista da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara no Brasil.

A fotografia do beijo, aí, não apresenta apenas o amor como desejo, como expressão da sexualidade, ou interação humana, ela representa uma contestação a um contexto de opressão, de violência, de perturbação da paz e dos direitos das pessoas. A fotografia de Lennon não é apenas a fotografia do amor dele por Yoko, mas de um amor que sucumbiu à violência, mas que permanece, por imagem, contestando o contexto que o desumanizou.

Por isso, no #Plataforma de hoje, saio um pouco do trilho, para trazer uma publicação on line que, mais do que uma discussão estética da fotografia, usa a fotografia para fazer uma discussão política e responder a Marco Feliciano com dezenas, centenas de beijos. A página Beijos para Feliciano resolveu mostrar no facebook que tem gente, muita gente que não se sente representada pelo deputado e que, mais do que qualquer coisa, prefere responder às insanidades dele com amor. E os beijos unem a voz dos quase 27 mil curtidores da página com declarações revoltadas, divertidas, românticas, de todo tipo, mas todas em apoio ao direito de humanidade que nós temos. todos nós.

Foto: Bianca e Isabel

Foto: Bianca e Isabel

Foto: Henrique e Fernanda

Foto: Henrique e Fernanda

Foto: Niara Aureliano e Jéssyca Vieira

Foto: Niara Aureliano e Jéssyca Vieira

São diversas as imagens, enviadas para o email beijosparafeliciano@gmail.com e outras imagens, matérias, vídeos encontrados pela internet. A discussão na página não é a beleza dessas fotografias, mas o caráter de representatividade que elas têm, representatividade esta recentemente bastante questionada na figura do ministro.

Diante delas, não cabe minha análise estética, mas minha declaração de apoio. Diante delas, faço minhas as palavras do deputado Domingos Dutra no momento em que se retirava da sessão que votaria a candidatura de Feliciano: esta comissão não é a comissão de minorias, é a comissão das maiorias, que luta por segurança pública, o que interessa a todos os brasileiros. Essa comissão é a comissão das mulheres, que são vítimas de violência e são maioria. […] é a comissão que olhou para os negros, que são maioria do povo brasileiro, […] dos índios, que há mais de 500 anos sofrem genocídio, […] dos quilombolas que, depois de 300 anos de escravidão, ainda lutam para ter o seus territórios demarcados. […] Essa comissão é dos ciganos, da comunidade gay, das lésbicas, das prostitutas, de todos os brasileiros que pagam impostos e merecem ter a proteção do estado brasileiro. Essa comissão é dos evangélicos, dos católicos,  é daqueles que não têm religião nenhuma, dos de religião de matriz africana.

E se essa comissão não permite o acesso do povo, deste povo citado pelo deputado, ela não o representa.

um beijo para Feliciano,
para que ele caia.

Laerte e Jean Wyllysapós a primeira sessão da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos. (crédito da fotografia não encontrado)

Laerte e Jean Wyllys após a primeira sessão da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos. (crédito da fotografia não encontrado)

Sobre joanafpires

recife, 27, 60, 170, 35, 40
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Uma resposta para Plataforma – Um beijo para Feliciano

  1. vieiraeuclidessantana disse:

    Reblogged this on SCOMBROS.

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