Um dos principais objetivos para boa parte dos fotógrafos é mostrar a sua produção, apresentá-la de modo que possibilite às pessoas conhecerem e mergulharem no seu trabalho. Para isso, alguns dos meios disponíveis para viabilizar a visibilidade de uma produção fotográfica para o público é através da produção de sites, vídeos, projeções, slideshows, livros ou exposições. Sendo estes dois últimos os mais almejados pela maioria, dentre outras razões, por serem “produtos físicos”, terem maior durabilidade/perenidade e permitirem a adequação e a escolha das variáveis para essa exibição (variedade de tamanhos, formatos, inclusão de textos e etc.). Entretanto, são também os mais complexos e custosos.
Para optar pela melhor forma de exibir um material fotográfico é necessário refletir bem sobre como se pretende apresentar o trabalho. Muitas variáveis e questões devem ser levadas em conta, nem todo trabalho se justifica enquanto livro e/ou exposição. Outras vezes, sua essência dialoga melhor com uma ou outra forma. Então, é fundamental se perguntar: O que se quer exatamente? O que se pretende mostrar? Por que mostrá-lo? Para que? Para quem? Onde? Quando? Como? Em suma, é importante, antes de tudo, organizar as ideias e preparar um projeto que seja coerente com o trabalho fotográfico a ser exibido, digo, pensando e avaliando a partir do motivo/assunto/conceito do trabalho. O material fotográfico deve ter força em si mesmo, deve ser suficientemente interessante para justificar sua exibição. Tudo parte deste ponto inicial e converge de volta para ele.
Mas, às vezes, esse elaborar um projeto é quase um sofrimento… Já vi muita gente quebrando cabeças por aí! Organizar as ideias ou saber por onde começar a seguir pode ser realmente bem difícil. Contudo, tentando desmistificar essa ideia, acredito que preparar um projeto não é nenhum bicho de 7 cabeças. Antes de tudo, o conceito e pertinência de sua ideia precisam estar claros em sua mente, serão eles que guiarão todo o processo e darão subsidio a todas as etapas seguintes, esse escopo é a base onde todas as outras etapas se sustentarão.
A grosso modo, um projeto deve respeitar um roteiro básico, vários modelos podem ser facilmente encontrados na internet, vale buscar alguns e separar aquele que mais dialoga com o formato que se está buscando desenvolver. O mais importante na verdade é que ele consiga trazer, de forma sucinta, clara e objetiva: a apresentação do projeto, a justificativa, os objetivos, a definição do público-alvo, os resultados previstos, e ainda, se possível, a estratégia de ação, o cronograma e o orçamento, tópicos cruciais em qualquer projeto. Mas, dependendo do andar da sua carruagem, estes 03 últimos tópicos poderão vir em um segundo momento.
Nessa construção, novamente algumas perguntas balizadoras facilitam a formatação, tais como: O que é o projeto? Qual seu objetivo principal? O que se pretende com o projeto? Qual a sua relevância? Em que contexto se insere o projeto? Qual sua importância/oportunidade neste contexto? Por que foi pensado e proposto? Qual seu diferencial? Qual o público-alvo? Quem são os principais envolvidos?
Colocadas algumas dessas questões para contribuir na reflexão da viabilidade de elaboração prática de uma ideia, gostaria de me ater a essa última questão: Quem são os principais envolvidos? Para a realização de qualquer projeto, seja ele de que natureza for, uma série de profissionais são necessários para garantir sua exequibilidade. É fundamental termos a clareza de que precisaremos contar com uma série de pessoas vindas de áreas diversas, com suas bagagens e conhecimentos.
Seja para a produção de um livro ou para a montagem de uma exposição, muitos profissionais são extremamente necessários, a exemplos: produtor, curador, designer do projeto expográfico, designer gráfico, fotógrafo, assessor de imprensa, arte-educadores, mediadores, marceneiros, pintores, montadores, eletricistas, iluminadores, editor, produtor de textos, corretor ortográfico, etc. Esses agentes trabalham interdisciplinarmente, o trabalho bom ou ruim de um afeta o trabalho de todos os outros, então, é importante ter bastante cuidado e atenção ao escolher com quais profissionais e fornecedores iremos trabalhar. É bacana pegar indicações e referências, ver portfólios e outras ferramentas que possam ajudar nesta escolha e não somente se prender ao “menor preço”, pois muitas vezes o barato sai caro.
Várias vezes vejo projetos sendo realizados por uma equipe de 1 homem só. Uma loucura! Acredito que aquela velha mania de tentar fazer tudo sozinho (ou com uma equipe minúscula) pode ser uma grande tolice que pode complicar e prejudicar bastante o projeto. Investir em profissionais capacitados e com experiência não vale somente por eles terem mais sabedoria e prática nas suas áreas de expertise (o que já seria o suficiente), mas também por serem pessoas que podem dar ideias, soluções criativas e pertinentes que podem ser grandes diferenciais no seu projeto e inclusive significar economia, de tempo e de dinheiro investidos. E assim como nós fotógrafos lutamos para sermos valorizados, outros profissionais de outras áreas também merecem o mesmo respeito e a dignidade de serem reconhecidos e bem remunerados por suas funções. Eles são essenciais para a execução e sucesso na empreitada de apresentar um trabalho fotográfico.
Acredito que o ideal é contatar, escolher e firmar as parcerias com estes profissionais ainda quando o projeto está sendo colocado no papel, ainda nesta fase de elaboração mesmo, escrever o projeto não precisa e nem deve ser uma tarefa solitária. Vale trocar ideias, rascunhar, adaptar e ir formatando já com a equipe que executará o projeto, pois isso garante que seu projeto será realmente coerente, eficiente, realista e bem sucedido ao final.
P.s. Outras dicas sobre este assunto podem ser conferidas no texto de Bella Valle sobre o workshop “Transformando-se em proposta: o projeto na prática fotográfica contemporânea”, ministrado pelo curador cubano Jose Antonio Navarrete, durante o Evento Pensamento e Reflexão na fotografia.