O imprevisível me encanta. Tenho um prazer pela ruptura, pelo experimento, pela fuga do lugar comum, e acima de tudo, pela surpresa, daquela sensação boa de olhar para uma imagem que você nunca esperava ver. Exatamente o que eu senti quando conheci o trabalho 36 Exposures de David Emitt Adams, um projeto maravilhoso de experimentação com a fotografia tintype (processo fotográfico do século XIX que utiliza placas de metal pintadas de preto como suporte para a emulsão e reprodução), que estabelece um diálogo bastante forte e contemporâneo entre o passado e o presente da fotografia:
Alimentado por minha história pessoal, a minha paixão pela fotografia incluiu um olhar abrangente sobre o seu passado. Ele me levou a construir câmeras, projetar salas escuras portáteis, e explorar os métodos de produção de imagens do século 19. Não é por acaso que este trabalho envolve conceitos e materiais que ligam as ferramentas e tecnologias do passado de fotografia com as preocupações da nossa cultura contemporânea. Minha vida como um artista gira em torno da ideia de que meu trabalho está engajado em uma “conversa com a história”.
A “conversa” que fez com que David Emitt Adams produzisse o 36 Exposures se iniciou nas aulas de introdução à fotografia que ele ministrava. Adams sempre fez questão de apresentar esse mundo aos seus alunos usando câmeras analógicas, os colocando em contato com todo o processo de revelação, ampliação e toda a mágica de um laboratório. (As vezes me questiono por sempre usar o termo mágica quando me refiro à um laboratório analógico, mas até hoje é algo que me seduz, exatamente como a mágica). Ao final das aulas, se deparava com vários rolos de filmes vazios e a partir daí, surgiu a ideia: porque não reutilizar os rolos vazios como suporte para fotografia?
Adams então instigou seus alunos a fazerem autorretratos e usando o processo de tintype, ampliou, junto com eles, as fotografias nos rolos de filme, que foram abertos, formando pequenos retângulos. De um lado, a fotografia, do outro, o rótulo do filme, referência e sentimento, passado e presente, lado a lado. Uma forma que o professor encontrou de unir, ainda mais, os seus alunos da experiência analógica, e de os estimular a ousar, brincar, pensar na fotografia como algo sempre mutável. O resultado é belo. A sensação de descobrir rostos modernos em imagens que parecem relíquias é deliciosa, é como se ele estivesse construindo memórias de trás para frente.
36 Exposures é um trabalho vibrante, não só pelo material produzido como também pela forma como Adams solucionou a forma de apresentação: uma vitrine de mogno, que ele projetou e construiu fazendo referência e reinterpretando a estética da fotografia do século XIX.