Começou ontem aqui em Recife o I Encontro Fotografia e Educação. Uma palestra aberta ao público e organizada pelo Gema no Teatro Hermilo Borba Filho contou com a presença de Miguel Chikaoka, Ana Maria Schultze, João Kúlcsar e Ana Mae Barbosa numa noite que reuniu arte-educadores e fotógrafos de alguns lugares do Brasil.
É tão ao gosto da generosidade de verdadeiros mestres, esse Diário de Bordo será feito por várias mãos que resolveram se interessar por essa aventura de criar um diálogo entre fotografia e educação. E o texto de hoje surge de uma conversa com o fotógrafo Fernando Siviero* que veio de Natal para participar do encontro.
Apesar de sermos fotógrafos e educadores, esse diálogo nos trouxe perspectivas completamente diferentes, eu me sentia em casa, Fernando como se estivesse sendo apresentado a um mundo completamente novo.
A fala em comum dos quatro palestrantes, trouxe uma perspectiva de fotografia, arte e educação (e a relação entre elas) como problema e potência para lidar com questões de nosso tempo e não como um dado pronto ou uma fórmula a ser aplicada em qualquer lugar.

Eduardo Queiroga, Miguel Chikaoka, Ana Maria Schultze, João Kulcsár e Ana Mae Barbosa na abertura do EFE | Foto Ana Lira/Retratografia
Miguel Chikaoka falou pouco, mas tocou em questões profundas e essenciais da fotografia e do ser humano. Nos disse que não está criando nada de novo e sintetizou, diante do tempo curto, a necessidade de darmos importância à luz num processo educativo em que a fotografia torna-se instrumento para o desenvolvimento do ser humano, do cidadão.
Já Ana Maria Schultze optou por falar de seu trabalho através da influência de Ana Mae Barbosa. Como se esperasse um público predominante de fotógrafos, Ana Maria teve a generosidade de apresentar a mais importante pesquisadora de Arte-Educação no país, utilizando também esse momento para dar voz a sua enorme gratidão pelo trabalho de Ana Mae, gerando abraços entre elas durante a palestra.
João Kúlcsar, por sua vez, apresentou um pouco de sua trajetória e dos projetos que desenvolve, como o de alfabetização visual, o de formação de fotógrafos-educadores e o trabalho com fotógrafos-cegos. Sobre o trabalho com os deficientes visuais, João ressaltou que a importância não está no modo como eles produzem as imagens, mas no porque, naquilo que os motivam a fotografar.
Ana Mae Barbosa tirou rapidamente o foco da fotografia para conversar mais sobre educação e arte. Mas sem deixar de lado a imagem fotográfica – defendida por ela como arte mais importante do século XXI – Ana Mae ressaltou a importância da contextualização da arte nos atos pedagógicos exercitando-a junto ao público.
As duas horas de fala e de conversa com o público foram uma pincelada do que está por vir nos próximos dias desse Encontro. E as expectativas são imensas e sinalizam ricas aprendizagens e transformação, principalmente pela potência política, dada pelos palestrantes, da interação entre educação-arte-fotografia.
E depois de muita conversa, eu e Fernando ficamos relembrando as palavras de Paulo Freire, para quem era necessário ter ousadia para ensinar no contexto atual. E quer ousadia maior para um fotógrafo do que tirar o foco da produção-circulação de fotografias e ajustá-lo para o da educação, tendo no horizonte um mundo inundado e inspirado cotidianamente por imagens?
*Fernando Siviero é historiador, educador e fotógrafo.