Para mim, uma das coisas mais belas do nosso coletivo, o 7Fotografia, é que nos mostramos em processo. Em processo de aprender, de construir, de pensar a fotografia e a nós mesmas no meio disso tudo, assumindo a subjetividade como parte importante desta construção.
E faço esta afirmação por dois motivos: primeiro porque este espaço tem sido fundamental na construção de minha pesquisa de mestrado e depois porque foi exatamente essa a minha percepção e vivência durante o 1º Encontro de Fotografia e Educação, que aconteceu em Recife semana passada.
O encontro foi estruturado de forma muito interessante. Primeiro uma palestra aberta ao público como forma de partilhar com as pessoas que ficaram de fora, já que não teve vaga pra todo mundo, e depois palestras no horário da manhã, seguidas de oficinas durante a tarde. Tudo muito bem articulado, com o conteúdo das palestras se desdobrando nas oficinas.
O EFE foi voltado, especialmente, para professores da rede pública, com o objetivo de utilizar a fotografia na sala de aula. E os organizadores tiveram o cuidado de trazer pessoas que pensam a educação e a imagem num espectro muito abrangente, da educação não formal, com os trabalhos desenvolvidos por Miguel Chikaoka e João Kulcsar, à educação formal, da universidade até a escola, com a experiência de Ana Mae Barbosa e Ana Maria Schultze.
Durante as oficinas, nós fomos divididos em vários grupos e cada pessoa acabou tendo uma experiência particular. No primeiro dia cada equipe teve um integrante do GEMA (Grupo de Educação e Mudança pela Arte) como mediador e um sorteio determinou com qual palestrante seria feita a oficina no dia seguinte. No último dia, retornamos ao grupo inicial para partilhar nossas experiências e encontrar propostas para os desafios que surgiram nas primeiras horas do encontro.
Não quero detalhar o tanto do que aconteceu durante o evento, vocês podem acompanhar um pouco das vivencias no blog do EFE, mas vou fazer uma breve reflexão sobre o que vivi, olhando pela janela de quem anda pesquisando o ensino e a aprendizagem da fotografia.
A troca estabelecida entre educação formal e não formal e entre professores da rede pública e fotógrafos foi riquíssima. Vários educadores apresentaram seus trabalhos com fotografia em sala de aula e a multiplicidade de experiências existentes me deixou impressionada. Muitos apontaram a necessidade que tem a escola hoje de mudar o seu olhar. O que me remeteu ao trabalho de desescolarização desenvolvido pela Ana Thomaz, que repensa o papel da escola na sociedade e dentro de nós.
Em um vídeo que nos conta sobre como se deu esse processo Ana fala um pouco da angústia vivida por muito professores e que foi várias vezes exposta durante o encontro.
[vimeo http://vimeo.com/66307546]A fotografia foi colocada por todos num lugar de muita potência. Ana Mae Barbosa, por exemplo, nos disse que como a grande arte do século XXI e diante do panorama político de nosso país, onde se ganha eleição na televisão, trabalhar com a fotografia na sala de aula é algo de extrema importância.
E várias possibilidades de trabalho com a fotografia foram apresentadas, como o utilização dos autorretratos para construção de um espaço de expressão e da identidade dos alunos. O estímulo dos outros sentidos, além da visão, através da construção de fotografias, a exemplo da prática de João Kúlcsar. E nessas apresentações parece que nenhuma etapa ficou esquecida, Ana Maria Schultze assinalou a importância da construção de um portfólio como ferramenta de avaliação.
Ficou claro que qualquer imagem fotográfica é objeto para educação ampla e não só de disciplinas de arte e seu uso pode ser ainda mais amplificado. Miguel Chikaoka apontou o tempo inteiro para os possíveis desdobramentos da sua bela representação artesanal de fenômenos físicos que envolvem a elaboração de uma fotografia. E um bom exemplo dessas possibilidades foi trazido pelos professores, o celular é um problema em sala de aula que pode ser revertido com dispositivo fotográfico.
Diante desse cenário trazido até nós, Ana Maria Schultze fez uma pergunta bastante pertinente em sua palestra: alguém consegue escapar da fotografia?
O cuidado com as pessoas e a reflexão trazida pelo EFE me fez pensar se a fotografia pode ser uma ponte entre a escola e o mundo contemporâneo. E se for ponte, ela perde sua potência para fomentar e transmutar mundos? Ou pode ela, além de se apresentar como uma forma de conhecimento em si, também encantar os alunos que, de acordo com as falas de muitos professores, parecem tão desencantados com o universo escolar?
Sem dúvida, ficou claro que a imagem é uma potencia única para ser trabalhada em sala de aula. E para mim, durante todo EFE, pude perceber que a prática pedagógica se dá num processo, numa trajetória que pode ser construída com poesia e significado para o próprio professor, porque uma aula também precisa ser pensada para nos dar prazer. Não foi à toa que Ana Mae Barbosa falou que quando os artistas começaram a pensar no trabalho educativo como suas próprias obras, uma virada aconteceu no mundo da arte.
Terminado o encontro trago na lembrança a imagem de uma arte-educadora (e infelizmente não lembro seu nome) que com seu sorriso insistia em desafiar as dificuldades do seu cotidiano escolar. O mestre Paulo Freire nos fala da ousadia que é ensinar nesse país. E que bom que temos pessoas ousadas e corajosas como essa moça no mundo!
O educador antes de mais nada tem é que se conhecer, precisa se educar antes de começar a educar os outros.
Janusz Korczak
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