Tenho me perguntado qual papel da educação no nosso mundo contemporâneo. E indo mais fundo nas respostas, ou nas perguntas, fico a querer saber se a educação consegue atender às nossas necessidades enquanto seres humanos. As necessidades mais básicas, como aprender a se relacionar com o outro, com a gente mesmo, com nossas emoções, nossa cultura.
Para começar, indico um filme chamado Escolarizando o Mundo. O último fardo do homem branco, um documentário de Carol Black sobre as consequências das políticas de escolarização para populações nativas de várias partes do mundo.
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6t_HN95-Urs]Esse filme, junto com uma entrevista da Ana Thomaz, já postada aqui no blog, me fizeram repensar sobre o lugar da escola, a escola dentro de mim e no meu papel enquanto educadora.
Ana Thomaz fala, entre tantas coisas interessantes, da necessidade de tirarmos a escola da gente. Essa escola que nos formata, nos ensina a sermos pessoas submissas, obedientes ao sistema e toda essa conversa que a gente já sabe. Mas a grande diferença no discurso dela é não ir contra essa escola que existe em nós, mas falar da possibilidade de criarmos uma nova cultura. Inventarmos um outro caminho para nós mesmos.
E o que tem a fotografia a ver com isso tudo? Vou explicar através de uma experiência muito pessoal. Há algumas semanas eu precisava apresentar um ensaio fotográfico numa aula. Imagina só, uma turma cheia de excelentes fotógrafos e com um professor que eu bem admiro. Eu tremi! Passei dias numa intensa conversa comigo mesma: e se ninguém gostar? eu tô insegura, meu trabalho não é bom, ai, e essa edição? a impressão ficou ruim, deu tudo errado. Socorro!!!
E foi durante esse diálogo interno que me deparei com os vídeos e comecei a me colocar num outro lugar. (Acho que vocês já perceberam que esse texto vai fazer mais sentido se vocês os assistirem!) Me dei conta que eu vivia uma situação de ameaça e que era isso que me continha. A ameaça me dominava e eu não conseguia deixar fluir o meu processo criativo. É claro que o pensamento mais comum era sobre a minha insegurança, mesmo que eu tivesse a clareza de que se expor é sempre algo delicado. E refletindo sobre as coisas que me diziam os vídeos, fui tentando entender o que eu estava sentindo e como aquela situação, que me ameaçava, atrapalhava meu aprendizado. Também pensei numa certa obrigação que temos de ser artista se a fotografia faz parte da nossa vida, profissionalmente ou não. Revi o significado da arte para mim e refleti sobre como nosso conceito de educação pode ajudar ou atrapalhar o nosso caminho.
Para Fayga Ostrower o homem cria não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando. E agora eu pergunto: qual o seu papel no seu próprio aprendizado, como a fotografia pode ajudar ou atrapalhar nossos processos criativos? Diante de tudo isso, me vi numa angústia que misturava meus caminhos pessoais com minha pesquisa acadêmica. E passei a me observar, a ter calma para perceber o que era meu e o que era desse sistema que insiste em nos classificar o tempo inteiro.
Ainda não sei definir muito bem o que é uma educação para fotografia, mas começo a pensar que é uma relação entre o fotógrafo e a câmera, entre o fotógrafo e a imagem, sem considerar a história de vida de cada um, sem particularizar cada processo. Como se nós fôssemos aplicando formulas alheias a nós mesmos. E ao me deparar com a obrigação de ser artista (quem foi mesmo que me disse que eu precisava ser uma?) e que nem eu mesma sei se de fato é meu desejo, resolvi sentar com a fotografia para conversar, como faço tantas vezes.
Abri o computador e escolhi as imagens que me eram mais significativas neste meu momento de vida. Imaginei um fio condutor que contasse o que eu mais queria dizer com aquelas fotos. Despi toda a pretensão que eu tinha, todo o mistério que insisto em guardar aqui e dentro e fui lá imprimir minhas imagens. E esqueci por uns dias.
Hoje as coloquei sobre a mesa e pude contar suas histórias e ouvir uma generosa palavra que desvendou o trabalho para mim. Lembrei do Cláudio Feijó dizendo que a fotografia é um substrato e como tal é preciso coloca-la pra fora. Sabe o que é engraçado? Quando tirei a fotografia do pedestal que eu a havia colocado, ela se mostrou inteira. E me fez ver que não é ela que deve estar no centro da aprendizagem, mas servir apenas como uma ponte. Talvez, o caminho mais interessante para se aprender fotografia seja o da leitura do mundo, tão ao sabor do mestre Paulo Freire.
Parabéns Val! Esse sem dúvida é o caminho mais divertido, seja para aprender fotografia, arte ou simplesmente aprender a viver. Nada é tão sério assim… e tudo que é íntimo e pessoal acaba sendo verdadeiro e universal. Já dizia Rilke e uns outros tantos artistas, criar é uma necessidade… o resultado é consequencia. (estava na mesma crise… rs)
tirar a fotografia do pedestal… taí
=)
Sobre essa “obrigação” de ser artista (e outras de nossas angústias) tem um texto recente de Juan Antonio Molina Cuesta, curador e crítico de arte mexicano, em que ele diz assim:
“Lo que más daño ha hecho en la llamada “cultura fotográfica” no es el supuesto de que cualquier fotógrafo puede ser artista, sino el imperativo de que tiene que serlo. Parece como si se pensara (¡Ay Baudelaire!) que sólo el arte puede redimir a la fotografía de algún incierto pecado original. ”
Para quem quiser ler o texto todo e refletir mais um pouquinho, segue o link: http://migre.me/gC6Du