Plataforma – Echolilia: Sometimes I Wonder

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Echolilia | Timothy e Elijah Archibald

“Para mim, essas fotografias não são sobre ele, mas sobre uma relação. Eu sempre penso que esta relação tem três componentes: ele, eu e a coisa compartilhada que nós não podemos definir realmente. Aquilo que sentimos quando olhamos todas essas fotografias juntas é que é o canal que define esse projeto. Isso é que é a coisa da ‘Echolilia'”. É assim que o fotógrafo Timothy Archibald define o projeto fotográfico construído junto a seu filho autista, em entrevista à revista Time.

Elijah nasceu em 2001. Diferentemente do que se espera tradicionalmente de um menino autista, ele possui um amplo vocabulário, frequenta a escola e tira boas notas. Mas vive claramente em um outro “canal” e experimenta as coisas na batida do seu próprio ritmo. Seus pais não entendiam as razões do seu comportamento rebelde e nem do que se tratava.

Quando Eli tinha 5 anos, Timothy, que é fotógrafo, resolveu dar início a um ensaio colaborativo, na tentativa de despertar uma ponte entre ele e o filho. Logo depois, foi diagnosticado o autismo, o que explicou algumas coisas, mas não o impediu de tentar desenvolver essa relação. Assim, juntos, pai e filho criaram o Echolilia: Sometimes I Wonder, livro lindo, composto por imagens poéticas, que refletem a relação de ambos.

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Echolilia | Timothy e Elijah Archibald

O autismo é uma alteração que interfere na comunicação, socialização e comportamento das pessoas. “Echolilia”, ou “echolalia”, é um termo utilizado na comunidade autista para designar a repetição verbal sem propósitos de certos termos, frases ou palavras e a imitação/cópia, bastante comum no comportamento de autistas. Para Archibald, a fotografia também é uma espécie de cópia, de reprodução, de echolilia. Além disso, a infância é uma fase de imitações e ele acaba se vendo com outros olhos através do comportamento do filho.

Echolilia é um ensaio sensível de um pai desesperado por compreender o filho e se relacionar, o mínimo que seja, com ele. Foi no processo do ensaio que Timothy e Eli se conectaram. Ambos dirigiam as imagens, de forma colaborativa. Ora um assumia a liderança, ora o outro. Mas sempre que Timothy sugeria uma imagem, Eli o surpreendia com algo inesperado. É impossível controlá-lo e o fotógrafo mergulhou na ideia de entregar as rédeas do processo criativo a uma criança, enquanto ele operava a câmera. Ambos olhavam as fotos pelo visor e refaziam, modificavam, se achassem necessário.

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Echolilia | Timothy e Elijah Archibald

Foi um processo doloroso de um pai que não pode construir imagens que mostram alegria, afeto, união, de sua relação com seu filho. O livro foge ao que geralmente vemos por aí, quando navegamos em fotos divertidas, leves e felizes no instagram e facebook. Ele nos mostra uma criança tensa, isolada, mergulhada em um mistério que ninguém nunca vai entender. Mas mais do que isso, nos mostra a relação de um homem, que tenta construir alguma ponte com essa criança. E tudo em imagens belíssimas.

Tematicamente é um projeto forte, que expõe uma intimidade não idealizada. Esteticamente é uma obra de arte, de cores e luzes equilibradas e um senso de composição fotográfica aguçado. A linguagem visual das fotografias de Archibald nos conecta ao que os conecta. Mexe, sacode, inspira, traz nó à garganta e brilho aos olhos.

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Echolilia | Timothy e Elijah Archibald

ps – Este plataforma seria sobre outra coisa, até que Joana nos mostrou o Echolilia hoje e eu não poderia deixar de compartilhar. Obrigada, Jo!

Sobre bellavalle

Fotógrafa, pesquisadora, professora da UFPB, mestre pela PUC/SP, doutoranda pela UFPE e amante da vida.
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Uma resposta para Plataforma – Echolilia: Sometimes I Wonder

  1. Rafael Lima disse:

    Obra fantastica! Muito lindo!
    Estou até fazendo um trabalho sobre este livro para a aula de fotografia hahaha

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