O #Autografia dessa semana traz a delicadeza de Manu Melo Franco.
O que você fotografa? O que você gosta de fotografar?
Eu fotografo as coisas que o tempo vai me roubar.
Hoje me entrego inteiramente ao registro doce e descompromissado da infância do meu filho. Mas nem sempre foi assim, quando pari Tomé , há quase dois anos atrás, dei a luz também à uma nova relação com a câmera.
O fato de ter estudado fotografia me fez acreditar, sei lá porque, que eu precisava ser fotógrafa. E ser fotógrafa, naquela época e no meu mínimo entendimento, significava viver daquilo, ter que vender o que se produz, produzir sem respiro, corresponder às expectativas do outro que te vê, fazer mais para fora do que para dentro. Tudo isso não era meu nem eu, então decidi não ser fotógrafa e briguei com a câmera. Isso não quer dizer que nosso amor tenha morrido, muito pelo contrário, foi a forma mais honesta que encontrei de preservar nosso relacionamento. O silêncio, às vezes, pode salvar casamentos lindos e duradouros.
E o tempo, esse mesmo bandido que me rouba o que quero guardar, generosamente me trouxe o entendimento de uma fotografia leve e verdadeira. Hoje eu fotografo pelada, despida de preocupações técnicas, de respeito à regras de terços, livre de equipamentos e recursos mirabolantes, da forma mais simples que enxergo, com um amor que nunca antes havia sentido pelo ato de fotografar.
Fotografo a rotina do meu filho com um celular e vou guardando em uma plataforma virtual. É o álbum, a caixa de sapato, o baú com moedas de ouro que guardo para ele quando crescer. Guardo pra mim, para meu marido, para quando a memória nos der uma bela rasteira e nos deixar à míngua de flashes curtos de lembrança, ou nem isso.
Essa fotografia me libertou de ser fotógrafa, me entregou de bandeja para o deleite de uma relação cheia de surpresas e muito cheia de amor. Talvez seja essa a mágica da coisa: antes mesmo de colocar o olho no buraquinho, enquadrar, fotometrar, focar e disparar, a gente devesse fechar os olhos e ouvir. Porque tem hora que a fotografia tá gritando no corpo inteiro da gente, e bobo é aquele que não se dá o prazer de ouvir!
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Manu, por Manu: Me formei em jornalismo e fiz pós-graduação em Fotografia no SENAC/SP. Durante este período de estudo, atuei como produtora em encontros e festivais de fotografia (Paraty em Foco/Festival de Fotografia de Tiradentes/Fórum Latino Americano de Fotografia de São Paulo/Encontro de Coletivos Ibero Americanos/Feira Fotografar). Quando ainda acreditava que “tinha” que ser fotógrafa, tive meu trabalho exposto na galeria virtual do site “Perspectivas”, de Geórgia Quintas e Alexandre Belém, no Kaunas Photo Festival (Lituânia) e na Semana da Fotografia de Belo Horizonte. Hoje sou mãe coruja e fotógrafa do Tomé, vivo na calmaria do interior de Minas e, nas horas vagas, continuo atuando como jornalista e produtora no mercado fotográfico.
Maravilha!
tudo lindo; manu, tomé, palavras, os quintais e as lavanderias, mato, cerca, árvore, vestido, cabide, pintinho de fora, pernocas, mineiridade…
Delicadeza e alegria nas imagens que Manu Melo Franco faz de seu filho Tomé. Também amo seus autorretratos que acredito que ela ainda faça. Puro amor! Fã numero um.
Isto sim é uma d.r., e com um lindo final feliz! parabéns pelo lindo texto, Manu, e pelas belíssimas fotografias. Abraço forte.
Muito bacana o texto. Acredito que esse sentimento de “descompromisso” seja interessante e torne a fotografia mais leve e verdadeira. Fotografia pelo ato de fotografar. Mas só fico com uma dúvida/questionamento. Olhei as fotos da autora no tumblr: maravilhosas. Composições, luz, momentos. Um livro online de puro sentimento. A minha pergunta é: a autora diz que não existe a preocupação da regra dos terços, de preocupação técnica e etc`s… E tem como realmente não preocupar-se com essas questões básicas? Acredito que depois de um caminho trilhado através da fotografia, de estudo tanto técnico como teórico, tudo isso englobe e torne a fotografia ainda melhor. Não acredito que se não ouvesse preocupação nenhuma com a “forma”, as fotos delas não seriam tão boas. Minha humilde opinião. Abraços.
Só uma correção no final: “Acredito que as fotos dela não seriam tão boas se não houvesse preocupação nenhum com a “forma”. =D
Adorei suas fotos e me fez lembrar de uma fotógrafa que conheci hoje num curso de fotografia!
Sally Mann – (americana n. 1951) “Immediate Family” vale a pena conferir!