Tem coisas que tem gosto de infância… Cobogó é uma delas. Lembro que Clara, minha melhor amiga da época de colégio, 1992 se não me engano, morava em uma casa linda, cheia de plantas. O pé de amora era o meu preferido, eu ficava sentadinha na pedra que tinha ao lado dele a tarde inteira colhendo frutinhas dos galhos mais baixos, até as verdes. Sentadinha comendo amoras, ficava olhando para a imensa parede de cobogós azuis piscina do primeiro andar da casa. Lembro que aquela parede me parecia gigante, a maior parede de todas e eu a chamava de parede de lego. Eu, Clarinha e sua irmã mais nova ficávamos brincando de dar “tchau” passando os braços pelos buracos dos cobogós. Se não me engano deve existir alguma foto linda perdida por aí, dos nossos bracinhos nos cobogós. Alguns anos depois, a casinha linda virou um prédio com cara de banheiro, mais um, no meio de tantos. Só sobrou a saudade das minhas amoras e dos meus legos gigantes…
Quando Josivan Rodrigues me mostrou o livro “Cobogó de Pernambuco“, recém saído da caixa, essa memória veio fresquinha na minha cabeça… Enquanto folheava as páginas com aquele cheiro bom de livrinho novo, inconscientemente, fiquei buscando os meus legos gigantes azuis. Encontrei outros “legos”, belíssimos “legos”, que estão por aí, pelos cantinhos da cidade, que muitas vezes passam batidos aos nossos olhares apressados. O livro “Cobogó de Pernambuco” tem esse gosto de infância para mim, aquele olhar curioso como se eu estivesse brincando de jogo da memória, tentando pelos detalhes desvendar o lugar que aquele cobogó enfeita. Com direito a sorriso e tudo quando acertava na mosca o lugar!
E para minha surpresa, os meus “legos gigantes” surgiram aqui em Pernambuco, uma invenção de dois comerciantes e um engenheiro radicados no Recife no início do século XX — Amadeu Oliveira Coimbra, August Boeckmann e Antonio de Góes.
Além de um símbolo da memória afetiva de muitos pernambucanos, o cobogó tem uma grande importância no panorama da arquitetura moderna nacional. O trabalho é mais do que um livro de belas fotografias, é uma investigação estético-fotográfica, como define o próprio Josivan, pensada com a intenção de preencher uma lacuna na iconografia da arquitetura pernambucana, e fruto de uma longa pesquisa teórica e documental, sobre o surgimento, desenvolvimento e uso do cobogó na arquitetura, pesquisa essa feita ao lado do arquiteto e pesquisador Cristiano Borba e do professor, arquiteto e pesquisador Antenor Vieira, falecido no início deste ano.

Esquerda: Ladeira da Misericórdia, Carmo, Olinda / Direita: Vila Naval, Avenida Cruz Cabugá, Santo Amaro, Recife | Josivan Rodrigues

Esquerda: Avenida Norte, Macaxeira, Recife / Direita: Avenida Dr. Manoel de Barros Lima, Carmo, Olinda | Josivan Rodrigues
O livro, será lançado hoje, 4 de setembro na Orbe Coworking, junto com o lançamento do site do projeto e da fonte tipográfica Dingbat Cobogó. Criação do designer Guilherme Luigi, inspirado nas fotografias produzidas por Josivan, o Dingbat Cobogó representa 36 cobogós, disponibilizados gratuitamente para download no site do projeto www.dingbatcobogo.com.br. Para ser utilizada em qualquer editor de texto, a fonte completa o objetivo de tornar a estética do cobogó acessível e popular, como aconteceu na intervenção urbana promovida durante o 23º Festival de Inverno de Garanhuns, quando o Dingbat Cobogó foi usado como Lambe-lambe Cobogó colado em alguns espaços da cidade. Vale a pena conferir o diálogo proposto pelas duas linguagens do projeto.
Serviço:
Lançamento do livro Cobogó de Pernambuco
04 de Setembro de 2013, às 19 horas na ORBE coworking
Av. Dantas Barreto, 324, 8º andar, Edf. Pernambuco, Centro, Recife.